Seis anos se passaram dos grandes incêndios nas regiões de Pedrógão Grande. Esta quinta-feira o memorial de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017 abriu. Um investimento de 1,8 milhão de euros por parte do Governo que está localizado junto à Estrada Nacional 236-1, na zona de Pobrais, Pedrógão Grande (Leiria). Lá podem-se ler o nome das 115 vítimas mortais dos fogos naquele ano.

Abriu o memorial, mas sem inauguração oficial. António Lopes, autarca da Câmara Municipal de Pedrógrão Grande disse à LUSA que não depende da Câmara a inauguração. Segundo o autarca, apenas houve a informação da Infraestruturas de Portugal (IP) da abertura. António Lopes frisou ainda que nunca foi contatado pelo gabinete do primeiro-ministro António Costa para escolher uma data para realizar uma inauguração ou homenagem. (*)

“Acho que devia existir uma cerimónia em homenagem à memória das vítimas, mas apenas fui previamente informado pela Infraestruturas de Portugal que o monumento ia abrir ao público”, referiu o autarca.

Mesmo assim, António Costa evocou hoje a memória das vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande. Numa publicação no Twitter, afirmou: “Não há ano que passe que nos faça esquecer a tragédia dos incêndios de 2017. Curvemo-nos perante a memória das vítimas e expressemos sempre respeito pela dor das famílias”, afirma o primeiro-ministro num conjunto de mensagens divulgadas no Twitter em que recorda a tragédia que provocou a morte de 66 pessoas.

Para a Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), a forma do líder do Governo se dirigir às pessoas dos territórios afetados pela tragédia de 2017 “não é a melhor” e lamentou que não mereçam “outro tipo de comunicação e de atitude, num território que há seis anos sofreu tanto”.

Dina Duarte, a responsável AVIPG, frisou ainda que o território continua abandonado, com péssimas telecomunicações, “como esteve nos dias do incêndio em junho de 2017. O território continua por sua conta e, lamentavelmente, tanto dinheiro foi doado pelos portugueses e agora até isso nos querem tirar (fundo Revita)”, lamentou a presidente da AVIPG, lembrando que continuam por executar os projetos-piloto prometidos para os territórios afetados.

O Fundo Revita

Segundo o seu sítio na Internet, o Revita, criado pelo Governo, é “de âmbito social, com o objetivo de gerir os donativos entregues no âmbito da solidariedade demonstrada, em estreita articulação” com aqueles três municípios. Aderiram ao Fundo Revita 66 entidades, com donativos em dinheiro, bens e prestação de serviços, sendo que a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL) contribuiu com uma dotação inicial de quase 430 mil euros.

A CIMRL opôs-se à "nacionalização" do Revita e no documento pediu a reavaliação desta decisão, notando que o fundo tem “a natureza de património autónomo, com personalidade jurídica, sendo dotado de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, e não integra o perímetro de consolidação da administração central, da segurança social, nem o orçamento da segurança social”.

“O facto de a Direção-Geral do Orçamento (DGO) pretender alocar para a esfera do Estado um fundo humanitário e de natureza privada não é mais do que uma nacionalização dos donativos dados por pessoas e entidades após aqueles incêndios”, disse à Lusa Paulo Batista Santos, membro do Conselho de Gestão do Fundo Revita em representação daquelas Câmaras e 1.º secretário executivo da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL).

O Fundo Revita tem diretamente a seu cargo a reabilitação de 99 casas. “No final de junho de 2022, 89 destas casas encontram-se concluídas”, sendo que cinco estão suspensas e outras cinco em execução, precisamente os mesmos números do relatório de execução anterior, de março de 2022.

Ainda de acordo com o documento, o Conselho de Gestão do Fundo decidiu aplicar parte dos donativos “na recuperação da atividade dos produtores agrícolas e da agricultura de subsistência, cobrindo por esta via os prejuízos superiores a 1.053 euros e inferiores a 5.000 euros”, em Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera e Pedrógão Grande. Foram atribuídos subsídios a 1.130 produtores agrícolas, no valor total 3.438.007,76 euros, explica o relatório.

“Até à data, entre reconstrução, apetrechamento de habitações, apoios a agricultores e outros, o Fundo Revita procedeu a pagamentos no montante total de 6.546.128,54 euros”, acrescenta o relatório.

Com Lusa.

(*) - Depois da redação deste artigo, foi confirmado à LUSA pela presidente da Associação de Vítimas dos Incêndios de Pedrógão Grande, Dina Duarte, que foi contactada ao final da tarde pela ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, para participar na escolha da data de inauguração do memorial. Também à LUSA o presidente daquela autarquia do distrito de Leiria, António Lopes, afirmou o mesmo.