"A semana de quatro dias não é trabalhar da mesma forma e folgar à sexta-feira", começa por afirmar Pedro Gomes, professor de Economia em Birkbeck, Universidade de Londres, indicando que as empresas que experimentaram o modelo tiveram de escolher o formato que melhor se adequa à própria empresa.
Segundo refere, "há empresas que, de facto, trabalham quatro dias, oito horas por dia, e fecham à sexta-feira, mas existem muitos outros modelos", como o trabalho por turnos, para que a empresa se mantenha aberta cinco dias por semana, ou equipas que trabalham em espelho, por exemplo.
Um dos formatos mais utilizados pelas empresas neste projeto-piloto - que completa seis meses - foi "a quinzena de nove dias", uma média de 36 horas laborais em que os trabalhadores alteram uma semana de cinco dias com uma semana de quatro dias, um modelo que não exige um aumento diário das horas de trabalho, diz Pedro Gomes.
"Na fase de teste, a grande maioria não teve de contratar mais ninguém", embora no caso de uma creche tivesse havido a necessidade de recrutar um trabalhador, aumentando em 4,5% a força laboral.
Pedro Gomes diz, no entanto, que só quando as empresas fizerem a avaliação final da experiência, ainda deste mês, será possível ter dados mais concretos, "mas uma coisa é certa: a ideia de que é preciso contratar 20% mais trabalhadores para implementar a semana quatro dias é completamente errada".
"Eventualmente é preciso contratar, em alguns setores é possível que seja preciso, mas nunca será uma contratação da forma proporcional", realça.
De acordo com o professor, as empresas que estão a experimentar o modelo "são muito particulares, são empresas especiais" que podem não ter representatividade no tecido empresarial português, uma vez que têm trabalhadores muito qualificados e com uma sobre-representação das mulheres em cargos de gestão face à média nacional.
"O objetivo do projeto piloto é abrir a porta à experimentação de outras empresas e, quando mais experimentarem, vamos ter mais informação e podemos perceber melhor o que é que seria uma generalização da semana de quatro dias", afirma.
Além das vantagens para os trabalhadores, Pedro Gomes realça o impacto positivo no lado das empresas.
"Com os trabalhadores mais descansados, com melhores níveis de saúde mental, conciliação de trabalho e vida profissional, também tem impacto na empresa, a começar logo pela questão da atração e retenção de trabalhadores, que é um dos grandes problemas que muitas empresas enfrentam", defende o investigador.
Pedro Gomes deu como exemplo a tecnológica portuguesa 360imprimir, que adotou há um ano, de forma independente, a semana de quatro dias e cujos resultados apontam para vantagens na diminuição da taxa de rotatividade, bem como do absentismo.
O projeto-piloto arrancou há um ano, com a apresentação do modelo aos parceiros sociais, seguindo-se um período de comunicação com as empresas, em que foi explicado e três meses de preparação. A experiência nas empresas começou em junho e este mês será feito o balanço, sendo o estudo final apresentado em abril.
Das 41 empresas que testaram a semana de quatro dias, 21 começaram o teste em junho, mas outras começaram antes, de forma independente, explicou.
"É perfeitamente normal haver empresas que, tendo testado, concluíram que preferem trabalhar no formato anterior e portanto tenham voltado para trás" tal como aconteceu com o trabalho remoto, diz.
Em 5 de junho arrancou a terceira fase do projeto-piloto e na altura foi anunciada a adesão de 39 empresas e cerca de mil trabalhadores.
Segundo dados então divulgados pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, as 39 empresas situadas em 10 distritos incluíam "um instituto de investigação, uma creche, um centro de dia, um banco de células estaminais que trabalha sete dias, e empresas do setor social, indústria e comércio".
O relatório do balanço, que será este mês conhecido, é da autoria dos investigadores Pedro Gomes, e Rita Fontinha, professora associada de Gestão Estratégica de Recursos Humanos na Henley Business School da Universidade de Reading.
*Por Denise Fernandes, da Agência Lusa
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