A Rede do Sistema de Alerta Antecipado contra a Fome (FEWS, na sigla em inglês) retirou o relatório — que classificava a situação de fome iminente, por causa de “um bloqueio quase total” das autoridades israelitas a ajuda alimentar ao enclave — depois de severas críticas por parte do embaixador norte-americano em Israel, Jacob Lew.
A disputa pública suscitou acusações de figuras proeminentes da ajuda humanitária e dos direitos humanos de que o trabalho da FEWS — uma organização financiada pelos EUA, destinada a refletir a opinião de especialistas internacionais imparciais – fora contaminado pela política.
Uma declaração de “fome iminente” seria um embaraço para Israel, que tem insistido que a sua guerra de 15 meses em Gaza é dirigida ao grupo islamita Hamas e não contra a sua população civil.
No início desta semana, o embaixador dos EUA em Israel classificou o alerta da organização como sendo “impreciso e irresponsável”, alegando que as conclusões do relatório não tiveram em conta adequadamente as circunstâncias em rápida mudança no enclave palestiniano.
As autoridades humanitárias e de direitos humanos manifestaram receio da interferência política dos EUA no sistema mundial de monitorização da fome, mas a diplomacia norte-americana lembra a dificuldade de trabalhar em condições de guerra.
“Trabalhamos dia e noite com a ONU e os nossos parceiros israelitas para satisfazer as necessidades humanitárias — que são grandes — e confiar em dados imprecisos é irresponsável”, disse Lew, comentando o relatório.
A FEWS foi criada pela agência de desenvolvimento dos EUA na década de 1980 e ainda é financiada por Washington.
A organização pretende fornecer avaliações independentes, neutrais e baseadas em dados das crises de fome, incluindo em zonas de guerra.
As suas conclusões ajudam a orientar as decisões sobre a ajuda dos EUA e de outros governos e agências em todo o mundo.
A disputa com o último relatório aponta, em parte, para a dificuldade de avaliar a extensão da fome no norte de Gaza, enclave em grande parte isolado.
Milhares de pessoas fugiram nas últimas semanas da intensificação da repressão militar israelita que, segundo os grupos de ajuda humanitária, permitiu a entrega de apenas uma dezena de camiões de alimentos e água desde outubro.
O relatório que foi retirado esta semana estimava que, a menos que Israel mude a sua política, o número de pessoas que morrem de fome e doenças relacionadas no norte de Gaza atinja entre dois e 15 por dia já entre janeiro e março de 2025.
O limite de mortalidade internacionalmente reconhecido para a fome é de duas ou mais mortes por dia por cada 10.000 pessoas.
Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, Oren Marmorstein, saudou as críticas do embaixador dos EUA a este relatório, dizendo na rede social X que o documento procurava “espalhar mentiras”.
O norte de Gaza tem sido uma das zonas mais atingidas pelos combates e pelas restrições de Israel à ajuda humanitária durante a guerra com o movimento Hamas.
As autoridades internacionais dizem que Israel aumentou no Verão passado a quantidade de ajuda que admitia no país, sob pressão dos EUA.
Os EUA e a ONU afirmaram que a população de Gaza, no seu todo, necessita entre 350 e 500 camiões por dia de alimentos.
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