Segundo aquela agência de notícias espanhola, que cita testemunhos gravados por canais de televisão, os traficantes de seres humanos que comandavam a embarcação pediam dinheiro e tinham barras de ferro para aterrorizar os mais de 700 migrantes a bordo do barco de pesca.
As autoridades detiveram nove homens de nacionalidade egípcia, que estavam entre 104 passageiros resgatados do mar e entre os quais oito crianças, que acreditam serem os responsáveis pelo navio.
Segundo a Efe, os homens foram denunciados depois das autoridades gregas numerarem os sobreviventes e terem perguntado, após mostrarem fotografias aos resgatados, se conseguiam identificar os traficantes.
Os nove homens detidos são acusados de formar uma organização criminosa para o tráfico de migrantes, provocar um naufrágio e pôr vidas em perigo e vão ser, segunda-feira, presentes ao Ministério Público da cidade de Calamata, na Grécia.
De acordo com estação pública televisiva grega, a ERT, o barco partiu do Egito, fez uma escala no leste da Líbia, onde os migrantes embarcaram, e depois continuou para Itália, estimando-se que transportava mais de 700 pessoas, entre elas mulheres e crianças colocados nos porões do navio.
“Viajámos durante quatro dias, deram-nos pouca comida e água suja. Calculo que havia cerca de 700 pessoas no barco”, disse Hasan, um sírio de 23 anos, num testemunho relatado pelo diário Kathimerini e citado pela Efe.
As operações de busca continuam hoje, cinco dias após o naufrágio, mas as autoridades acreditam que as hipóteses de encontrar alguém vivo são quase nulas.
Os sobreviventes foram levados para o centro fechado de Malakasa, nos arredores de Atenas, para serem identificados e a partir de onde poderão pedir asilo.
De acordo com os testemunhos, o motor da velha traineira tinha começado a apresentar problemas desde o segundo dia de viagem e às primeiras horas da manhã de quarta-feira deixou de funcionar, quando a embarcação estava a sudoeste da península do Peloponeso, e começou a meter água.
De acordo com testemunhos recolhidos, os migrantes deslocaram-se então para o outro lado do barco, onde não havia água, fazendo com que a embarcação acabasse por virar.
Outros testemunhos citados pela Efe indicam que, horas antes do naufrágio, a guarda costeira grega tentou lançar uma linha para o arrastão, mas as pessoas a bordo recusaram ajuda porque queriam continuar a sua viagem para Itália.
A tragédia dos migrantes, uma das maiores de sempre no Mediterrâneo, reacendeu as críticas à União Europeia por parte de organizações internacionais e ONG que criticam a sua política de migração.
“Sejamos claros, este não é um problema grego. É um problema europeu”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na quinta-feira.
“Se os países não se empenharem em criar condições para uma migração ordenada e regular, os migrantes ficarão nas mãos dos traficantes e as consequências serão tão trágicas como as que vimos ontem”, acrescentou.
De acordo com os dados fornecidos pelo Projeto Migrantes Desaparecidos da Organização Internacional para as Migrações (OIM), há quase 27 mil migrantes desaparecidos no Mediterrâneo desde 2014.
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