“Impõem-se fazer o rastreio genético pois este teste, obrigatório para quem é tratado, se for positivo, é obrigatório encaminhar para consulta de genética médica os familiares em risco de poderem herdar essa alteração, porque esses, que não têm doença, têm de fazer medidas de vigilância e redutoras de risco para evitar que venham a tê-la”, considera Gabriela Sousa, da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO).

A médica oncologista sublinha ainda: “Se até há pouco tempo [este teste] não tinha impacto no tratamento, hoje em dia há medicamentos que foram desenvolvidos no sentido de beneficiar um grupo de mulheres que é pequeno, que são quem teve cancro do ovário e tem esta mutação genética”.

Em 2018, surgiram em Portugal 574 novos casos de cancro do ovário e morreram 412 mulheres com a doença.

Apesar de apenas 1,3% das mulheres na população em geral virem a desenvolver cancro do ovário ao longo das suas vidas, a predisposição genética é um importante fator de risco para o desenvolvimento deste tumor.

Num comunicado conjunto, a SPO, as sociedades portuguesas de Ginecologia, Senologia e Genética Humana, a Liga Portuguesa contra o Cancro e a Evita – Associação de apoio a Portadores de Alterações nos Genes relacionados com Cancro Hereditário recordam que cerca de 44% das portadoras de mutações patogénicas no gene BRCA1 e cerca de 17% das portadoras de mutações patogénicas no gene BRCA2 vão desenvolver cancro do ovário até aos 80 anos.

“Cerca de 85% do cancro do ovário é esporádico e cerca de 15% é hereditário, pelo que é importante que as mulheres estejam atentas à sua história familiar porque este é evitável”, afirma Gabriela Sousa, do conselho científico da SPO, sublinhando a importância de prevenir que pessoas saudáveis venham a ter a doença.

“Fica mais barato fazer prevenção do que fazer tratamento”, acrescentou.

A especialista defende que deve haver uma atuação a vários níveis: “É preciso dizer à população que o teste existe para que todos o conheçam e é preciso sensibilizar a parte clínica e quem tem o poder de decisão”.

“É preciso que quem tem o poder de decisão esteja sensibilizado e que haja organização para que os centros de tratamento estejam apetrechados com recursos humanos e técnicos que permitam fazer o diagnóstico e, sobretudo, o seguimento dos familiares saudáveis. É aí que está o grande desafio”, disse.

Segundo a especialista, as mutações genéticas germinativas são transmitidas às gerações seguintes: “Estas alterações não saltam gerações. Se o pai ou a mãe tem a mutação, o(a) filho (a) tem a probabilidade de 50% de a ter herdado”.

“Se isto para quem teve a doença tem impacto no tratamento, para quem ainda não teve a doença tem um impacto ainda maior porque é uma doença que podemos evitar”, afirmou a especialista.

Gabriela Sousa aponta a falta de uma estrutura organizada no país e lembra que são poucos os casos em Portugal: “Estamos a falar de muito poucos casos por ano e é possível fazer [este rastreio] num país pequeno como o nosso”.

Segundo a especialista, a confirmação da presença de uma mutação patogénica germinativa (BRCA1 ou BRCA2) é importante para o doente, porque poderá fazer alterar opções terapêuticas, mas é sobretudo importante para os familiares saudáveis.

Para esclarecer todas as dúvidas relativas a estas mutações e às opões terapêuticas, a Evita e as organizações signatárias do comunicado vão lançar a campanha “saBeR mais ContA” no Dia Mundial do Cancro do Ovário, que se assinala a 08 de maio.

Em antecipação ao Dia Mundial, é hoje apresentado no Hotel Tivoli Oriente, em Lisboa, o MOG – Movimento Cancro do Ovário e outros Cancros Ginecológicos, criado por um grupo de mulheres que sobreviveram à doença e que estão a desenvolver uma rede para apoiar outras mulheres e famílias afetadas.

Com 70% de mortalidade, o cancro do ovário é um dos cancros ginecológicos mais letais e mata cerca de 30 mulheres todos os meses em Portugal.

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