“Ao visitar o DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal) uma semana antes daquilo que - já se estava mesmo a ver que era mais um adiamento (do prazo para a conclusão do inquérito da Operação Marquês) o Presidente da República decidiu tomar parte”, afirmou Sócrates numa entrevista à estação de rádio TSF.

“Fez um sinal político que não me escapou. De quem entre aqueles que abusam do poder – como é o caso do Ministério Público – o Presidente da República decidiu assim, do ponto de vista simbólico, visitar o DCIAP para sinalizar que está do lado de uma instituição contra o indivíduo”, sustentou o ex-primeiro-ministro socialista.

Na mesma entrevista, Sócrates refere que o Presidente da República “não foi eleito pelas instituições”, e que “deve compreender” que o principal dever de um chefe de Estado de uma República democrática é para com os direitos dos cidadãos.

No dia 07 de setembro, ao visitar o DCIAP, o Presidente da República, afirmava estar "muito empenhado" no funcionamento da investigação criminal.

Na altura da visita, o Presidente da República rejeitou pronunciar-se sobre questões concretas quando foi questionado pelos jornalistas sobre o facto de decorrerem no DCIAP casos como o do ex-primeiro-ministro José Sócrates ou do ex-presidente do BES Ricardo Salgado,

"Eu só vim aqui dizer uma coisa: que é por um lado ouvir, ver as condições a trabalho e dar o estímulo ou dar o apoio do Presidente da República no sentido daquilo que os portugueses desejam, que é que seja realizada justiça e que ela aqui comece por uma unidade de investigação muito especializada da criminalidade muito complicada, mas que por isso mesmo preocupa os portugueses", explicou.

A visita presidencial ao DCIAP demorou mais de uma hora tendo o chefe de Estado sido acompanhado pela ministra da Justiça, Francisca Van Dunem e pela Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal.

Entretanto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que concedeu mais 180 dias (seis meses) para a "realização de todas as diligências de investigação consideradas imprescindíveis" na Operação Marquês, que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates.

Os advogados de José Sócrates consideraram a decisão ilegal, abusiva e arbitrária.

A Operação Marquês conta com 18 arguidos, incluindo José Sócrates, que esteve preso preventivamente mais de nove meses, e que está indiciado por fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para ato ilícito.

José Sócrates, 59 anos, foi o primeiro ex-chefe do Governo a ser detido preventivamente em Portugal, indiciado por corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.

Entre os arguidos no processo estão o ex-administrador da CGD e antigo ministro socialista Armando Vara e a sua filha Bárbara Vara, Carlos Santos Silva, empresário e amigo do ex-primeiro-ministro, Joaquim Barroca, empresário do grupo Lena, João Perna, antigo motorista do ex-líder do PS, Paulo Lalanda de Castro, do grupo Octapharma, Inês do Rosário, mulher de Carlos Santos Silva, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e os empresários Diogo Gaspar Ferreira e Rui Mão de Ferro e o empresário luso-angolano Helder Bataglia.