Em declarações à agência Lusa, um dirigente da SOS Racismo, uma associação que desde 1990 luta por “uma sociedade mais justa e intercultural”, considerou que “é completamente hipócrita” que a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) abra agora um inquérito sobre a publicação, por agentes das forças de Segurança, de mensagens nas redes sociais com conteúdo discriminatório e que incitam ao ódio.

“Estamos fartos de apresentar coisas à IGAI para a abertura de inquéritos e os resultados são sempre os mesmos, ou seja, zero, ou praticamente zero. É hipocrisia completa”, criticou José Falcão.

O dirigente questionou como é referido serem casos pontuais quando a associação SOS Racismo denunciou a existência do Fórum GNR, no qual, afirmou José Falcão, era possível ler mensagens racistas e que incitavam ao ódio e à violência contra grupos como os ciganos.

“Denunciámos isso e foi arquivado porque o juiz entendeu que não dizia ‘ipsis verbis’ ‘às tantas horas vamos matar ciganos’. Isto é ridículo”, considerou.

Uma reportagem de um consórcio português de jornalismo de investigação, que inclui jornalistas, advogados e académicos, mostra que as redes sociais são usadas para fazer o que a lei e os regulamentos internos proíbem, com base em mais de três mil publicações de militares da GNR e agentes da PSP, nos últimos anos.

Para José Falcão, a posição oficial da associação sobre a reportagem é hoje igual à de há 20 anos, recordando uma reunião com o então ministro da Administração Interna António Costa, que foi alertado para a infiltração da extrema-direita na Polícia.

“As polícias do Estado estão mais entretidas e preocupadas com os ‘rapper’ e o hip-hop do que saber que isto existe”, criticou o dirigente, referindo-se ao Relatório Anual de Segurança Interna, que este ano faz uma correlação entre a criminalidade violenta dentro de grupos juvenis e gangues com um determinado estilo musical.

José Falcão assumiu estar revoltado com estas situações já desde há muitos anos, lembrando que ele próprio foi condenado por difamação de um juiz no contexto de um julgamento de um polícia pela morte de um ativista do bairro da Bela Vista, em Setúbal.

O dirigente da SOS Racismo afirmou que “é por causa destas coisas” que a associação afirma que “há um racismo estrutural” e defendeu que todos os elementos das forças de segurança identificados deveriam ser “corridos do sítio onde estão” e não voltar a integrar forças policiais como a PSP ou a GNR.

José Falcão lamentou ainda que a extrema-direita possa “dizer o que quiser”, quando o ativista Mamadou Ba, que é também dirigente da SOS Racismo, está a ser julgado por difamação, num processo movido pelo ex-líder dos Hammerskins Portugal, um grupo supremacista branco, Mário Machado.

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