Num comunicado divulgado esta quinta-feira, o Ministério da Saúde informou que, com as autópsias, os serviços médicos concluíram que alguns corpos de vítimas mutiladas foram contados várias vezes.

O saldo oficial divulgado pela polícia foi reduzido em 106 pessoas após a comparação de autópsias e exames de ADN, disse o Ministério no seu comunicado.

"Várias das vítimas ficaram muito mutiladas. Houve uma dupla contagem em alguns casos", acrescentou o Ministério.

Os ataques também deixaram 500 feridos.

As igrejas católicas do Sri Lanka permanecerão fechadas até que a situação de segurança melhore no país. As autoridades continuam as buscas por suspeitos.

Os homens-bomba atacaram a minoria cristã da ilha do sul da Ásia no domingo, com atentados em três igrejas durante a missa de Páscoa, o que provocou um banho de sangue. Ao mesmo tempo foram registadas explosões em três hotéis de luxo.

"Por conselho das forças de segurança, manteremos todas as igrejas fechadas", disse à AFP uma fonte da Igreja local.

"Não vai acontecer nenhuma missa pública até nova ordem", completou a fonte.

Os funerais das vítimas podem acontecer em cerimónias privadas.

Os atentados estão entre os mais violentos no mundo desde o 11 de Setembro de 2001.

As autoridades atribuem a autoria dos ataques ao grupo extremista local National Thowheeth Jama'ath (NTJ). A organização extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou os atentados num vídeo.

O governo de Colombo iniciou uma gigantesca busca pelos suspeitos. As forças de segurança cingalesas prenderam 16 pessoas esta quinta-feira, elevando para 75 o número de detidos desde domingo.

As Forças Armadas mobilizaram milhares de soldados para apoiar a polícia nas buscas. O Exército aumentou o número de militares envolvidos no dispositivo, que passou de 1.300 para 6.300. Aeronáutica e Marinha participam com 2.000 homens.

"Temos o poder de procurar, confiscar e prender, graças ao estado de emergência", ativado na segunda-feira, afirmou o general Sumith Atapattu.

'Falha' do Estado

Colombo reconheceu uma "falha" do Estado na área de segurança. As autoridades não conseguiram impedir o massacre, apesar de terem recebido informações prévias cruciais.

Um alerta emitido há 15 dias, que prevenia que o NTJ preparava atentados, não foi comunicado ao primeiro-ministro e a ministros importantes. A advertência baseava-se em elementos transmitidos por "uma agência de Inteligência estrangeira" e tinha sido divulgada à polícia.

"Claramente aconteceu uma falha de comunicação [dos serviços] de Inteligência. O governo deve assumir as suas responsabilidades, porque, se a informação tivesse sido transmitida às pessoas corretas, teria permitido evitar, ou minimizar, os atentados", admitiu o vice-ministro da Defesa, Ruwan Wikewardene.

A polícia é subordinada ao presidente Maithripala Sirisena, que é rival do primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe. O primeiro destituiu o segundo no ano passado, mas foi obrigado a readmiti-lo no posto depois de sete semanas de caos político.

Com personalidades antagónicas, os dois homens têm uma aversão recíproca e impõem obstáculos ao trabalho um do outro.

Alvo de críticas pela falta de ação, a máxima autoridade do Ministério da Defesa demitiu-se hoje, segundo uma fonte ministerial.

Hemasiri Fernando entregou a sua carta de demissão ao presidente Maithripala Sirisena, que é também ministro da Defesa.

"Disse ao presidente que aceitava a responsabilidade" dos atentados, informou esta fonte, que pediu para permanecer anónima.

Na quarta-feira, o governo cingalês anunciou que "nove homens-bomba" morreram nos atentados de Domingo de Páscoa. Oito foram identificados, mas os seus nomes não foram revelados.

Oito explosões

Nos oito locais em que aconteceram explosões no domingo, seis — três igrejas de Colombo, Negombo e Batticaloa, além de três hotéis de luxo em Colombo — foram alvos de atentados suicidas durante a manhã.

Posteriormente, foram registadas explosões ao meio-dia em dois pontos da periferia de Colombo. Estas últimas foram obra de suspeitos que cometeram suicídio para evitar a prisão. Uma pessoa pretendia executar um atentado num quarto hotel de luxo, mas não detonou a sua carga explosiva por uma razão indeterminada.

Cercado pelas forças de segurança horas depois na periferia sul de Dehiwala, o suspeito cometeu suicídio.

Quase no mesmo momento, duas pessoas — um homem e uma mulher — detonaram explosivos durante uma operação policial na residência de suspeitos na periferia norte de Orugodawatta.

O paradeiro do suposto líder do NTJ, Zahran Hashim, é desconhecido no momento.

"Vários homens-bomba estudaram e são de classe média ou de classe média alta. São bastante independentes economicamente e as suas famílias são bastante estáveis, o que é um fator preocupante", afirmou o vice-ministro da Defesa.

*Por Amal Jayasinghe / AFP