“O presidente [Jean-Claude] Juncker informou o colégio de comissários na terça-feira da intenção do secretário-geral de deixar o cargo até ao final deste mês. As consequências operacionais da sua partida serão decididas na próxima semana”, respondeu Mina Andreeva ao ser questionada durante a conferência de imprensa diária da Comissão Europeia sobre o processo de substituição de Martin Selmayr.

A nova porta-voz chefe do executivo comunitário – o anterior, Margaritis Schinas, foi indicado na quinta-feira pelo Governo grego para ser o próximo comissário daquele país – escusou-se a especular sobre se o colégio decidirá nomear um secretário-geral interino ou se optará por desencadear o processo de substituição do alemão.

“Na próxima semana, caberá ao colégio debater e optar se toma ou não uma decisão para assegurar a continuidade do trabalho do secretariado-geral”, limitou-se a acrescentar Andreeva.

A renúncia de Martin Selmayr ao cargo de secretário-geral da Comissão Europeia é um dos temas que mais burburinho tem causado na ‘bolha’ europeia nas últimas semanas, mais concretamente desde que o Conselho Europeu indigitou, em 02 de julho, a também alemã Ursula Von der Leyen para a presidência da Comissão Europeia.

Ainda antes da nova presidente do executivo comunitário ser eleita, esta terça-feira, pelo Parlamento Europeu, já Selmayr tinha dado conta da sua intenção de abandonar o cargo para, de acordo com as suas palavras ao meio especializado Politico, evitar que a ideia de que há demasiados alemães no topo das estruturas europeias se propagasse e prejudicasse Von der Leyen.

No entanto, esta segunda-feira, no mesmo dia em que o Politico noticiou a resolução do alemão do 48 anos, também Von der Leyen confirmou, numa reunião com os eurodeputados da sua família política, o Partido Popular Europeu, que iria fazer valer a regra de princípio segundo a qual não pode haver duas pessoas da mesma nacionalidade em cargos de poder no executivo comunitário.

Visto como braço direito e maior conselheiro do atual presidente da Comissão Europeia, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, o alemão é uma figura polémica em Bruxelas, onde é conhecido como “Monstro do Berlaymont” (o edifício-sede do executivo), pelo seu importante papel nos ‘bastidores’ e pela sua teia de influências.

Selmayr foi mesmo protagonista de uma das maiores polémicas da Comissão Juncker, num processo conhecido como ‘Selmayrgate’ que mereceu críticas da Provedora de Justiça Europeia, Emily O’Reilly.

O alemão foi promovido em 21 de fevereiro de 2018 a secretário-geral do executivo comunitário, o cargo mais elevado da administração, sem que houvesse um anúncio formal, e meros segundos depois de ter sido nomeado para secretário-geral adjunto.

Em 04 de setembro do ano passado, Emily O'Reilly, estimou que o executivo comunitário, de modo a justificar a ausência de indicação oficial, “criou um sentimento de urgência artificial” para preencher o posto.

“A Comissão Europeia organizou igualmente um processo de seleção de secretário-geral adjunto não para preencher este cargo, mas para garantir que o senhor Selmayr seria nomeado secretário-geral através de um procedimento rápido em duas fases”, sublinhou, aconselhando o executivo a elaborar regras específicas para o procedimento, por forma a que não se repita uma situação semelhante.

Em reação às conclusões de Emily O'Reilly, Bruxelas, através do comissário para o Orçamento e Recursos Humanos, Gunther Oettinger – curiosamente também ele alemão -, recusou novamente as acusações de alegada falta de transparência neste caso.