Numa entrevista à agência Lusa, Tikhanovskaia, que chegou ao fim da tarde de quinta-feira a Lisboa para uma visita que se prolonga até domingo, indicou que a razão dos protestos na Bielorrússia passa pela realização de novas eleições gerais, uma vez que as de 09 de agosto de 2020, não foram nem livres, nem justas nem transparentes.
“O nosso objetivo é a realização de novas eleições, porque as de agosto foram fraudulentas e a população levantou-se para protestar contra a situação. Como resposta, [Lukashenko] tornou a vida de todos na Bielorrússia num inferno”, referiu a opositora bielorrussa, que é recebida hoje de manhã pelo primeiro-ministro português, António Costa.
Tikhanovskaia, que se refugiou na vizinha Lituânia após as eleições, ganhas oficialmente por Lukashenko com cerca de 80% dos votos, disse ter vindo a Portugal uma vez que o país detém atualmente a presidência da União Europeia (UE) para pedir apoios internacionais para combater o regime bielorrusso.
“A principal razão é a situação, claro, na Bielorrússia, pelo facto de o regime ter já 26 anos de poder e de ter perdido o contacto com o resto do país. Por causa da nossa situação, temos de ir à procura de apoios no Ocidente e vim a Portugal, porque é o atual presidente em exercício da UE, que pode ser crucial e desempenhar um papel crucial no apoio à resolução dos problemas na Bielorrússia”, sublinhou.
Segundo Tikhanovskaia, o atual Presidente bielorrusso “já percebeu que está cada vez mais enfraquecido”, sendo essa a razão por que utiliza a repressão sobre os protestos à sua manutenção no poder, com a oposição a pretender resolver a situação “através do diálogo e de forma civilizada”
“É por isso que estamos à procura do diálogo e das negociações com o regime. Durante esse diálogo queremos analisar a realização de novas eleições, entre outras questões. Para forçar Lukashenko e os seus representantes a seguir a via do diálogo é necessária uma pressão constante no interior do país e da comunidade internacional”, explicou.
Questionada pela Lusa sobre a possibilidade de Lukashenko recusar todas essas opções, a opositora bielorrussa respondeu que o Presidente só se mantém no poder graças ao uso da violência.
“Mas sabemos que alguns dirigentes policiais e que parte da ‘nomenklatura’ já não o apoiam. Mas também sabemos que receiam a sua crueldade e estamos agora a trabalhar com eles em segredo. Têm-nos dado algumas informações importantes — vídeos de atrocidades, vídeos de violência”, acrescentou.
“Sabemos que o regime está a tremer e é da nossa responsabilidade, no interior do país, acabar com o regime, o que é um desafio também para os países europeus para mostrarem os seus valores em relação aos direitos humanos e que a lei não são meras palavras. Lukashenko é tóxico para o país e, fora do país, começa a não ser visto de forma confortável, até já pelas autoridades russas”, sublinhou a opositora bielorrussa.
Para Tikhanovskaia, o atual Presidente “não pode durar muito mais”, pelo que, prosseguiu, “é apenas uma questão de tempo” até que saia do poder.
“Ao longo de 26 anos de poder, Lukashenko organizou as relações de proximidade com a Rússia e os bielorrussos, tal como os russos, são amigos e vizinhos. Não iremos acabar divididos. […] O Kremlin não é a Rússia. O Kremlin é apenas o poder e quando apoiaram Lukashenko, o regime, a violência e a tortura, a perceção do Kremlin mudou na Bielorrússia. Sabemos que Vladimir Putin apoia economicamente o regime, mas, na realidade, Lukashenko está a tornar-se dispensável e caro para a Rússia, pelo que veem com muitos bons olhos o fim do regime”, argumentou.
“Penso que o Kremlin sabe que Lukashenko é politicamente corrupto, que já perdeu essa imagem de líder no país e que já não é conveniente trabalhar com Lukashenko. Estão à procura de uma forma de o afastar, mas sem que isso o obrigue a perder a face”, acrescentou.
Garantindo que, para já, não pensa candidatar-se a umas eventuais novas presidenciais, que a oposição exige que se realizem até setembro ou outubro deste ano, Tikhanovskaia lembrou que prometeu aos bielorrussos que só os lideraria até à realização de uma nova votação.
“Tudo pode mudar, mas não penso nisso para já”, frisou, da mesma forma que não se mostrou preocupada com o início das formalidades de Minsk para pedir a extradição desde a Lituânia para a Bielorrússia,
“Mas não vou desistir e nós não vemos outra alternativa que não o nosso sucesso. Acredito sinceramente [que o fim está próximo] e que estamos perto de uma nova primavera na Bielorrússia”, terminou.
JSD // EL
Lusa/Fim
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