Os Talibãs interromperam a venda de métodos contraceptivos em duas das principais cidades do Afeganistão, com a justificação de que o seu uso por mulheres é uma "conspiração ocidental" para controlar a população muçulmana, adiantou o The Guardian.

A interrupção da venda de métodos contraceptivos foi feita de porta em porta, ordenando que as farmácias deixem de os vender. "Eles vieram duas vezes à minha loja com armas e ameaçaram-me para não ter pílulas contraceptivas à venda. Eles estão a verificar regularmente todas as farmácias em Cabul e nós parámos de vender os produtos", disse um lojista na cidade.

Outros farmacêuticos em Cabul e Mazar-i-Sharif confirmaram que receberam ordens para não ter stock de nenhuma medicina anticoncepcional. "Itens como pílulas anticoncepcionais e injeções Depo-Provera não podem ser mantidos na farmácia desde o início deste mês, e estamos com muito medo de vender o stock existente", disse outro lojista em Cabul.

"Eu estava a usar métodos contraceptivos secretamente para evitar uma gravidez imediata", conta Zainab, de 17 anos, com uma filha de 18 meses. "Eu quero criar bem a minha filha, com serviços de saúde e de educação adequados, mas destruiu-me os sonhos a parteira informar-me na semana passada que não tinha pílulas contraceptivas e injeções para me dar".

"Eu deixei a educação para me casar, e eu não quero que o destino da minha filha seja o mesmo do que o meu. Eu desejo um futuro diferente para a minha filha", confessou Zainab. "A última esperança de planear a minha vida acabou".

Os talibãs que patrulham as ruas de Cabul estão a espalhar a mensagem de que o "uso de métodos contraceptivos e de planeamento familiar é uma agenda ocidental".

"O controlo dos Talibãs não apenas sobre o direito das mulheres trabalharem e estudarem, mas agora também sobre os seus corpos, é ultrajante", confessou Shabnam Nasimi, ativista social no Reino Unido, nascida no Afeganistão, ao The Guardian.

Restringir métodos contraceptivos é um problema significativo num país que já tem um sistema de saúde frágil, e faz parte de um dos vários ataques contra os direitos das mulheres, a par com o fim do ensino superior, universidades e restrição a casa.

"A proibição contraceptiva afetaria drasticamente a já deteriorada situação na saúde reprodutiva do país", disse uma parteira que fugiu de Cabul após ameaças de morte, ao The Guardian. "Temo que os ganhos que obtivemos na última década sejam perdidos depois desta mudança".

De acordo com um Estudo de 2022, "1 em casa 14 mulheres morrem durante a gravidez ou o parto". De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), "apenas 14% dos partos no Afeganistão são atendidos por um profissional de saúde qualificado, e a maior parte dos cuidados pró e pós-natais é fornecida por uma parteira, em vez de uma obstetra".

*Pesquisa e texto pela jornalista estagiária Raquel Almeida. Edição pelo jornalista Gonçalo Lopes.

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