Ao longo de quase duas horas, num ambiente tenso entre o PS e o CDS-PP, sucederam-se as perguntas dos deputados da oposição sobre se o general Rovisco Duarte sabia ou não, com precisão, a lista de material recuperado em outubro após o furto de 28 de junho.

O deputado do PS Ascenso Simões acusou João Rebelo, do CDS, de revelar informação de uma reunião à porta fechada com o CEME, em novembro, não abrangida pelo pedido de reserva, sobre as munições de 9mm em falta após ter sido recuperado parte do material militar.

Ascenso Simões revelou que existe “documentação confidencial à guarda da comissão”, enviada pelo Exército, que poderia ter esclarecido as dúvidas dos deputados da oposição.

O deputado socialista até pediu desculpa a Rovisco Duarte, por ter sido revelada parte da reunião, e foi na sequência dessa intervenção que o general confessou: “Com frontalidade, não sei o que estou aqui a fazer.”

Rovisco Duarte revelou nunca ter dito publicamente que todo o material roubado em 28 de junho de 2017 nos paióis de Tancos foi recuperado em outubro, na Chamusca, Santarém, afirmando que se baseou num comunicado da Polícia Judiciária Militar (PJM) que tomou “como boa”.

E que só falou na falta das munições de 9mm porque já tinha sido noticiada pelos jornais, afirmou, acrescentando que nada há de novo desde a notícia do Expresso, há duas semanas, sobre as informações de ainda existirem munições “à solta” e não recuperadas.

No entanto, tanto o CDS como o PSD apontaram às contradições entre o chefe do Exército e o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, e o primeiro-ministro, António Costa, que, em outubro, se congratularam por o armamento ter sido recuperado na totalidade.

João Rebelo chegou a dizer não acreditar que nem Azeredo nem Costa tenham feito estas declarações sem terem informações da parte das Forças Armadas e admitiu que “talvez a PJM pode ter induzido toda a gente em erro”

Pedro Roque, do PSD, continuou a classificar de “falta grave” o que aconteceu em Tancos há mais de um ano e afirmou que os sociais-democratas defendem que devem ser “apuradas responsabilidades políticas e operacionais” em todo este processo, apontando ao ministro da Defesa e ao próprio Rovisco Duarte, o mesmo que fez António Carlos Monteiro.

Já João Vasconcelos, do Bloco de Esquerda, quis saber se o general retiraria alguma consequência de todo este caso e se se demitiria, e ouviu de Rovisco Duarte um “não”.

“Desde o primeiro instante, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance”, disse o CEME, afirmando depois que “as demissões não resolvem tudo”.

E sobre os inventários, cuja fiabilidade que a oposição questiona devido à noticiada discrepância por ter sido encontrada a “caixa a mais” na Chamusca, o general garantiu confiar neles.

Rovisco Duarte evitou ainda comentar eventuais problemas de relacionamento entre a PJ e a PJM na investigação a todo este caso, apesar da insistência do CDS.

A iniciativa de ouvir o CEME partiu do CDS-PP na sequência de uma notícia do jornal semanário Expresso, de 14 de julho, que dava conta de mais material militar em falta do que o que foi recuperado pela Polícia Judiciária Militar, na região da Chamusca, depois do furto de material de guerra dos paióis nacionais de Tancos, em junho de 2017.

Citando partes de acórdãos do Ministério Público, o Expresso noticiou que além das munições de 9 milímetros, há mais material em falta entre o que foi recuperado na Chamusca, como granadas de gás lacrimogéneo, uma granada de mão ofensiva, e cargas lineares de corte. O material em falta, segundo a mesma exposição do Ministério Público, seria "um perigo para a segurança interna".

No final da reunião, Ascenso Simões, do PS, sublinhou que todos os responsáveis ouvidos durante as audições afirmaram que não existe um problema de “segurança nacional” com este caso.