Esta explicação foi dada pelo ex-diretor nacional da PJ José Almeida Rodrigues, numa audição na comissão parlamentar ao furto de Tancos, afirmando que, como dirigente da PJ, tinha 21 diretores adjuntos, em quem confiava, e não acompanhou diretamente esta investigação.

“A PJ teve conhecimento, eu, como diretor nacional, não”, afirmou aos deputados durante a reunião em que várias vezes alegou desconhecer pormenores sobre o processo, dado que não o acompanhava, como, por exemplo, o teor concreto da denúncia anónima recebida pela PJ, que foi “arquivada” e a que o juiz Ivo Rosa, de Lisboa, não deu seguimento.

Almeida Rodrigues remeteu mais esclarecimento para o então diretor da Unidade Nacional de Contraterrorismo, Luís Neves, atual diretor da PJ, que será ouvido na próxima semana na comissão parlamentar de inquérito.

Na audição, Almeida Rodrigues disse ter sabido do furto, em junho de 2017, através de uma chamada do então diretor da Polícia Judiciária Militar, coronel Luís Vieira, no dia 28, para que fosse divulgada “às congéneres” da PJ a lista do material militar roubado.

António Carlos Monteiro, do CDS-PP, questionou sucessivamente o antigo responsável se a PJ tinha ou não partilhado a denúncia, quatro meses antes dos acontecimentos de Tancos, sobre a hipótese de estar a ser planeado um roubo na região centro.

Por várias vezes, interrogado por outros deputados, Almeida Rodrigues disse que nunca leu a denúncia e admitiu “como provável que essa informação tenha sido transmitida” ao Exército, por exemplo, responsável pelos paióis.

“Se tivesse havido a partilha, não estaríamos hoje nesta comissão de inquérito”, comentou o deputado centrista, estranhando que, como diretor da PJ, não tivesse tido “a curiosidade” de saber o que estava a passar-se com a investigação.

José Almeida Rodrigues afirmou que foi dada prioridade a esta investigação e que trabalhou, enquanto diretor nacional, de modo a que a polícia tivesses "todos os meios para investigar".

Ex-diretor da PJ alinha na tese do amadorismo dos ladrões, faltou planeamento

O ex-diretor da Polícia Judiciária (PJ) José Almeida Rodrigues alinhou na tese do amadorismo de quem roubou o material militar dos paióis de Tancos, em 2017, e afirmou que lhes faltou planeamento.

“Alguém que deixa transparecer que vai praticar um furto ao ponto de chegar ao conhecimento das autoridades e, depois, a forma como o furto terá sido praticado, o local escolhido para a guarda das armas, tudo isso, faz crer que não terá havido um planeamento muito eficaz”, afirmou Almeida Rodrigues, na comissão parlamentar de inquérito.

Almeida Rodrigues até fez uma ironia ao dizer que, ao longo da sua carreira, investigou “crimes de roubo ou furto um bocadinho melhor planeados”.

Na audição de hoje, o ex-diretor nacional da PJ (2008-2018) relativizou a tese de o furto poder estar ligado ao terrorismo internacional e admitiu que “o tempo veio dar razão ao SIS [Serviço de Informações de Segurança]” quando, em junho de 2017, decidiu manter como moderado o nível de ameaça no país.

Foi também nesta parte da reunião, em que sempre esteve de semblante carregado, que fez mais uma ironia, em resposta ao deputado bloquista João Vasconcelos: “Só faltaram os terroristas, o material militar havia… Desculpem…”

Questionado sobre a importância do roubo, Almeida Rodrigues qualificou-o de “extraordinariamente grave” e acrescentou que causou danos à entidade que foi alvo do furto, neste caso ao Exército.

O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos, foi noticiado em 29 de junho de 2017 e parte do equipamento foi recuperado quatro meses depois.

O caso ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.

Este processo levou à demissão, ainda em 2018, do ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, e do chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte.

A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, pedida pelo CDS-PP, vai decorrer até junho de 2019, depois de o parlamento prolongar os trabalhos por mais 90 dias.