“O primeiro-ministro está a comentar aquilo que eu não disse porque não tem resposta para aquilo que eu disse. Não me antecipei a nenhum tribunal, nem quebrei a presunção de inocência de ninguém (…). Do ponto de vista político temos o direito e, até como partido de oposição, o dever de perguntar ao primeiro-ministro se sabia ou não sabia [do encobrimento do furto de armas em Tancos]”, afirmou Rui Rio, numa sessão de campanha em Leiria.

O líder do PSD salientou que o processo de Tancos, com a divulgação na quinta-feira da acusação, “passou a ser público” e reiterou as dúvidas que já tinha manifestado sobre o grau de envolvimento de António Costa neste caso.

“Se sabia, obviamente, foi conivente com um crime. Se não sabia, não foi conivente, mas ficamos todos a saber que os ministros não dizem ao primeiro-ministro assuntos do maior relevo que ele tem obrigação de saber”, afirmou.

E deixou um conselho aos portugueses para as próximas eleições: “Se os portugueses votarem no PS e o dr. António Costa voltar a ser primeiro-ministro, ficam a saber que ele constitui um Governo em que os ministros, com a maior das facilidades, não lhe contam exatamente tudo o que de relevante lhes pode acontecer no ministério”.

“Isto não tem nada a ver com substituir-me aos tribunais ou fazer julgamentos populares, é eminentemente político, é uma pergunta que se coloca e uma dedução que se faz em função da sua resposta”, defendeu, sob fortes aplausos de uma assistência de algumas centenas de pessoas.

O secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, acusou esta quinta-feira o presidente do PSD de ter atingido a dignidade da campanha eleitoral ao procurar envolvê-lo no caso de Tancos e afirmou que Rui Rio desiludiu quem o considerava pessoa com princípios.

Esta posição foi transmitida por António Costa numa declaração aos jornalistas, em Lisboa, depois de o líder social-democrata, em conferência de imprensa, ter considerado "pouco crível" que o primeiro-ministro não soubesse pelo seu ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes de que havia um encobrimento sobre a forma como foram recuperadas as armas furtadas de Tancos.

Foi no final de uma sessão de quase duas horas e meia de perguntas e respostas – um novo modelo de iniciativa de campanha a que o PSD chama ‘talk’ – em Leiria, que o moderador e presidente do Conselho Nacional, Paulo Mota Pinto, introduziu o tema do dia.

“Gostei de o ver no debate a criticar julgamentos nas tabacarias, reparei hoje [ontem] que o primeiro-ministro veio pegar nisso para o criticar. Será que realmente é assim, há alguma inconsistência ou estão a lançar a confusão?”, questionou Paulo Mota Pinto, dando oportunidade a Rui Rio de responder às críticas de António Costa.

O presidente do PSD sublinhou que considera a justiça um dos pilares da democracia que tem sofrido mais desgaste desde o 25 de Abril e reiterou a recusa do que chama de “julgamentos populares”, feitos na comunicação social quando os processos ainda estão em segredo de justiça.

“Não gosto de ver ninguém enxovalhado publicamente, não gosto de ver quando são de outros partidos, nem gosto quando são do meu partido”, acentuou.

No entanto, o líder do PSD fez questão de distinguir a situação de um processo em segredo de justiça, que se destina a proteger potenciais acusados, de processos que já são públicos, como acontece agora com o de Tancos.

Mota Pinto pediu ainda a Rio para dar uma razão aos indecisos para votarem no PSD, com o líder social-democrata a repetir um argumento que tinha usado nos debates televisivos.

“A governação do PS caracteriza-se por ser forte com os fracos e fraco com os fortes. E o meu compromisso chegando a primeiro-ministro é ser forte com os fortes e mais tolerante com os fracos”, disse.

Rio fez ainda questão de esclarecer as palavras que referiu na quarta-feira em Beja, quando disse que “se cair, cairá de pé”, afirmando que se referia à coragem de governar “não olhando especificamente para os votos”.

“Alguns terão lido na comunicação social, interpretando ao contrário. Eu disse: ‘eu posso cair, mas caio de pé’ e, maldosamente, disseram logo ‘olha ele já está a dizer que pode perder as eleições’, mas não era nada disso que estava a dizer”, assegurou.

Em Leiria, a tertúlia teve como convidado especial o antigo candidato presidencial Henrique Neto. À hora de arranque, às 21:20, a sala de cerca de 400 lugares estava apenas meia, mas foi enchendo até perto das 22:00.

No entanto, as quase duas horas e meia de perguntas e respostas foram gerando algumas clareiras bem visíveis mais perto do final da sessão.