“Estamos de facto num momento em que o poder político, o Governo de António Costa, chegou ao limite, porque isto é brincar com os portugueses, com o dinheiro dos contribuintes, com a companhia aérea. Tudo isto é lamaçal, do qual é preciso sair e sair com urgência”, afirmou Rui Rocha.

O líder da Iniciativa Liberal (IL) falava aos jornalistas à saída do Hospital Amadora-Sintra, em Lisboa, depois de se ter reunido com a administração daquela unidade hospitalar, cujos trabalhadores vão fazer uma nova greve entre 18 e 21 de abril.

Para Rui Rocha, as sucessivas revelações que têm sido feitas desde que se soube que ex-administradora Alexandra Reis recebeu uma indemnização de 500 mil euros comprovam “a falência total da gestão socialista na TAP” e são “o fim da linha” para o Governo.

“Se isto é na TAP, como será no resto todo? Como é na EFACEC, na CP, nas empresas públicas? O que é que se está a passar em Portugal que os portugueses cada vez pagam mais impostos, cada vez têm mais dificuldades em chegar ao fim do mês, e depois a gestão dos serviços públicos é (…) uma verdadeira anedota?”, questionou.

O líder da IL considerou que a audição parlamentar da CEO (presidente executiva) da TAP, na terça-feira, mostra que as “pressões políticas” se sobrepuseram “à eficiência e eficácia” na gestão da companhia aérea, o que comprova “a péssima decisão” que foi a sua renacionalização.

“É absolutamente inaceitável, nós estamos num cenário em que foram investidos 3.200 milhões dos portugueses na TAP, e o que vemos é que a companhia não é gerida de acordo com critérios de eficiência, de produtividade, é gerida de acordo com critérios políticos”, sublinhou.

Abordando diversos momentos da audição de Christine Ourmières-Widener, Rui Rocha destacou uma reunião entre deputados socialistas, assessores governamentais e a CEO da TAP, realizada em janeiro, considerando que essa reunião configura uma “intromissão insustentável do poder político” nos trabalhos parlamentares.

Rocha referiu que tem dados de que essa reunião foi promovida a partir do Ministério das Infraestruturas - voltando a pedir a demissão de João Galamba -, mas também contou “com assessores do Ministério dos Assuntos Parlamentares”, gerido por Ana Catarina Mendes.

“Ana Catarina Mendes, João Galamba, os seus ministérios, o Governo, estão presentes e condicionam decisões de gestão, fazem reuniões secretas… Não pode ser. Chegámos ao limite daquilo que é aceitável em democracia”, disse.

Por outro lado, o líder da IL referiu ainda um alegado e-mail, que não foi negado pela CEO da TAP, segundo o qual o ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes terá pedido para adiar um voo de Moçambique que tinha como passageiro o Presidente da República.

“Tudo isto não faz nenhum sentido e eu quero perguntar diretamente ao primeiro-ministro, António Costa, o que é que tem a dizer ao país sobre todas estas questões. A responsabilidade última é dele e só dele”, referiu.

Questionado sobre quais são as suas expectativas para a audição parlamentar de Alexandra Reis, que decorre hoje, Rui Rocha frisou esperar que essa audição não se concentre na “pequena gestão, no pequeno ato, na pequena decisão”.

“O que é preciso perceber é como é que foram metidos 3.200 milhões [de euros] dos contribuintes na TAP e como é que é possível, perante isto, fazer uma gestão que é puramente política, incompetente e negligente”, disse.

Rui Rocha defendeu ainda que “no século XXI, em Portugal, um país que deve ser civilizado” não se pode ter “a falência dos serviços de Estado”, alertando para falhas na prestação dos serviços públicos.

“O que é grave é que podemos estar a falar aqui à porta de um hospital, podemos estar a falar à porta de uma repartição de finanças, podemos estar a falar à porta de um tribunal, podemos estar numa paragem de um transporte público, podemos estar se calhar à porta da sede da TAP e o que vemos é a implosão generalizada dos serviços públicos que são prestados à população”, criticou o deputado.

Rui Rocha afirmou que o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, apesar de ser “uma pessoa simpática”, não tem conseguido inverter o estado da saúde em Portugal.

“Nós temos um ministro, que é o ministro Pizarro, que é uma pessoa simpática, mas cada vez que faz uma visita destas diz ‘ah, não pode ser, temos doentes a mais’. Pois não, não pode ser, mas quer dizer, ele é ministro, não pode ficar pelo ‘não pode ser’”, defendeu.

O líder da IL reiterou que o “CEO do Serviço Nacional de Saúde já começou funções há uns meses” e que não é possível “continuar com a saúde dos portugueses a ser prejudicada”.

Rui Rocha deu como exemplo o caso de mulheres grávidas que chegam ao hospital já em condições de saúde “muito deterioradas, perto de parto, porque não tiveram acompanhamento ao longo de toda a gravidez”, caracterizando a situação como inadmissível.

Na mesma declaração à imprensa, o líder da Iniciativa Liberal destacou a “muita dificuldade e rigidez de gestão” dos hospitais do país apontando a questão como motivo que dificulta a tomada de “decisões de gestão, de contratação, de investimento”.

Lembrou, também, a “grande dificuldade em recrutar e atrair profissionais de saúde” para o SNS e apontou a falta de médicos de família e a “ausência de cuidados primários em sentido geral” como principais problemas estruturais do SNS.

“Obviamente se as pessoas não têm médico de família e não são devidamente acompanhadas, depois chegam e muitas vezes a única porta que encontram aberta para ter cuidados de saúde é da urgência do hospital. Isso coloca uma pressão muito grande sobre estas unidades. E depois um outro ponto que é a ausência de cuidados primários em sentido geral”, acrescentou.

Rui Rocha destacou que na reunião com a administração do Hospital Amadora-Sintra foi informado que “praticamente metade dos episódios que aqui são tratados em termos de urgência não são verdadeiras urgências”, mas "pessoas que podiam ser encaminhadas para outros serviços onde poderiam ter um cuidado de saúde adequado”, concluiu.

O líder dos liberais disse que a IL “já apresentou duas propostas” para solucionar a questão do excesso de urgências não urgentes e a falta de médicos de família: a possibilidade de os utentes recorrerem a serviços privados “tendo o custo suportado pelo Estado” e o avanço das unidades de saúde familiar tipo C por terem “um perfil específico, em que há incentivos à produtividade, ao serviço prestado”.

A visita ao Amadora-Sintra deu-se no seguimento da greve dos trabalhadores desta unidade hospitalar, com exceção do pessoal médico, anunciada pelo sindicato da Administração Pública marcada para o dia 18 de abril.