Uma licença para conduzir táxis em Nova Iorque chegou a custar quase um milhão de dólares, em 2014, sendo considerada, na altura, um investimento mais rentável do que ter um apartamento em Manhattan.

Isso foi antes de serviços alternativos, como a Uber e a Lyft, terem aparecido e mudado as regras do jogo, ao inundarem as ruas de carros pretos em clara concorrência aos ‘amarelos’.

Atualmente, e segundo o jornal espanhol El País, há mais de mil taxistas na bancarrota e a dívida média de cada um é superior a meio milhão de dólares.

As dificuldades financeiras e emocionais dos cerca de 6.000 taxistas independentes de Nova Iorque tornaram-se evidentes em fevereiro do ano passado, quando o motorista Douglas Schifter se matou à porta da câmara municipal. Numa nota deixada nas redes sociais, Douglas Schifter explicava que as ruas de Nova Iorque estão pejadas de motoristas “desesperados para dar de comer às suas famílias” e acusava a Uber de os forçar a operar a baixo custo.

Em dezembro de 2018, o The New York Times reportava a morte da oitava vítima.

Muitos destes taxistas vivem nos bairros de Queens e do Bronx, representados pela congressista Alexandria Ocasio-Cortez.

Durante uma audiência no Congresso, Alexandria Ocasio-Cortez criticou as “práticas predatórias” que levaram milhares de taxistas à ruína.

“São pessoas comuns, a maioria das quais são imigrantes a tentar começar uma vida”, mas que estão a ser alvo de credores criminosos e “é preciso resgatá-los”, defendeu, apontando um dedo acusatório a reguladores e responsáveis da câmara municipal.

A autoridade reguladora, a Comissão de Táxis e Limusines, afasta, no entanto, qualquer responsabilidade.

“Os principais culpados são os bancos e as cooperativas de crédito”, sublinhou.

Segundo o atual presidente da câmara de Nova Iorque, Bill de Blasio, os taxistas foram muito favorecidos pela decisão de impor, no ano passado, um limite ao número de carros que podem operar nas novas plataformas e de garantir um salário mínimo aos motoristas.

Entre 2002 e 2013, quando a cidade era liderada por Michael Bloomberg, foram vendidas 1.260 licenças com o preço a atingir os 524.000 dólares (477.000 euros).

Em 2014, já com Bill de Blasio à frente da câmara de Nova Iorque, venderam-se 200 licenças, com o preço a chegar aos 965.000 dólares (878.000 euros).

Com o aparecimento da Uber, nesse ano, Bill de Blasio acabou por cancelar a venda de novos ‘medalhões’.

Há 15 anos, o preço de uma licença para operar um táxi em Nova Iorque era 175.000 dólares (160.000 euros).

As medidas do autarca democrata foram consideradas insuficientes e o vereador Mark Levine tem defendido a adoção de uma iniciativa legislativa para ajudar os taxistas afetados.

A ideia é que a cidade adquira os empréstimos com desconto para poder refinanciá-los com melhores condições, explicou o vereador, afirmando que Nova Iorque tem “uma dívida moral para com os motoristas que sofreram as consequências de uma crise” que a câmara ajudou a criar.

O presidente da câmara rejeitou, no entanto, a ideia, explicando que uma intervenção financeira direta custaria à cidade 13 mil milhões de dólares (11,8 mil milhões de euros).

“É preciso sermos realistas, não temos esse dinheiro”, defendeu Bill de Blasio.

A Aliança dos Trabalhadores de Táxis de Nova Iorque, que representa cerca de 21 mil motoristas, considerou, no entanto, que este valor seja exagerado, estimando que o resgate custaria 1,8 a 2,7 milhões de dólares (1,6 a 2,4 milhões de euros).

“Não serei um escravo que trabalha por meia dúzia de patacos”, afirmou.

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