Confrontado com as declarações de Rui Rio de hoje, que admitiu apenas conversar com o Chega sobre orçamentos “no debate parlamentar normal à vista de toda a gente”, André Ventura criticou a postura do presidente dos sociais-democratas, referindo que aquele líder partidário “tem dito uma coisa e o seu contrário”.
O presidente do Chega falava aos jornalistas durante uma curta arruada no centro de Sines, com cerca de 20 militantes, onde houve muito pouco contacto com a população.
Ventura referiu que Rui Rio “já admite uma negociação parlamentar, mas à vista de todos”.
“Isto é política de navegação à vista, de depois logo se vê. Isto não se faz. Temos que ser responsáveis”, afirmou o líder partidário, que nos últimos dias de campanha tem, por várias vezes, procurado pressionar o PSD a não excluir o Chega de um possível Governo de direita.
“A dois ou três dias das eleições [Rui Rio] diz que votar no Chega é votar no PS, mas ninguém acredita. É conversa para adormecer. Rui Rio deveria agora assumir aquilo que sempre disse, que não queria fazer oposição, que queria uma colaboração com o PS e agora é que se lembrou que é preciso fazer oposição”, asseverou.
Para André Ventura, a questão que se coloca aos eleitores é se querem “mais quatro anos de PS, se querem quatro anos de PS 2, que é o PSD, ou quatro anos de um Governo de direita, diferente”.
Questionado se o Chega é uma “espécie de patinho feio” na direita portuguesa, André Ventura encarou isso como um “bom sinal”.
“Estamos a incomodar”, acrescentou.
Depois de uma arruada que nem meia hora durou e que começou atrasada (como tem sido recorrente na campanha do Chega), André Ventura subiu a um coreto onde discursou durante cerca de 10 minutos, repetindo temas da campanha, como o corte no número de deputados políticos (Portugal está abaixo da média europeia em relação ao número de deputados por 100 mil habitantes) ou a luta contra “uma série de minorias”, que alega viverem às custas dos impostos.
“Os privilégios não são exclusivos dos banqueiros e dos políticos”, disse.
Ventura, que trabalhou para uma consultora fiscal depois de ter estado na Autoridade Tributária, criticou ainda a passagem de autarcas para "assessores" ou para cargos de "consultores".
“Temos que mudar de uma vez por todas”, frisou.
Antes da arruada, quando os militantes se concentravam à beira do Castelo de Sines, Mário Pereira, de 81 anos, discutia com um militante.
“Figurinhas como o senhor aparecem em todo o lado”, dizia o militante do Chega.
Mário Pereira, com um panfleto da CDU na mão, dizia que apenas queria ver “o cabeça de cartaz do fascismo”.
Aos jornalistas, o homem, “nascido e criado em Sines”, disse que quis ver os militantes do Chega.
“Tinha saudades deles, de antes do 25 de Abril, tinha saudades desse tempo e deles e vim cá vê-los”, ironizou, recordando que antes da revolução, não podia votar nem andar com o panfleto da CDU que trazia na mão.
“A culpa [do Chega] é da miséria. É a culpada. Se as pessoas tivessem casa, comer, beber, se pudessem tratar dos seus filhos, os ‘chegas’ não chegavam. Nem existiam, nem sequer apareciam aí, tinham vergonha”, explicou Mário Pereira, antes de se ir embora.
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