O relatório sobre venda global de armas 2023 do Instituto Internacional para a Investigação da Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês), que foi hoje divulgado, mostra que a importação de armas caiu em quase todas as regiões: África (-40 por cento), Américas (-21 por cento), Ásia e Oceânia (-7,5 por cento) e Médio Oriente (-8,8 por cento).

Contudo, a venda de armas para a Europa cresceu 47% e a Ásia oriental também teve um crescimento, embora mais moderado, entre os dois recentes períodos analisados pelo SIPRI - 2013/17 e 2018/22 - em grande parte devido ao aumento das tensões políticas e militares nestas zonas.

"Mesmo que as transferências de armas tenham diminuído globalmente, as que se destinaram à Europa aumentaram acentuadamente devido às tensões entre a Rússia e a maioria dos outros estados europeus", explicou Pieter Wezeman, investigador sénior do Programa de Transferências de Armas do SIPRI.

Esta situação na Europa acentuou-se particularmente desde 2022, com a invasão russa da Ucrânia e com o aumento das tensões na Ásia Pacífico, sobretudo entre os Estados Unidos e a China.

"Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, os estados europeus quiseram importar mais armas, mais rapidamente. A competição estratégica também se verifica em outros lugares: as importações de armas para o Ásia oriental aumentaram e as para o Médio Oriente permanecem em níveis elevados", acrescentou Wezeman.

Quanto aos países mais exportadores, Estados Unidos e França registaram os maiores crescimentos de vendas, enquanto o nível de vendas da Rússia diminuiu, devido à guerra na Ucrânia, mas também já desde 2014, aquando da anexação da Crimeia, o que lhe valeu o início de vários pacotes de sanções.

As exportações de armas russas diminuíram para oito dos seus 10 maiores destinatários, incluindo a Índia, onde as vendas tiveram uma quebra de 37%.

Ainda assim, as exportações globais de armas continuam a ser dominadas pelos Estados Unido e pela Rússia, que são, consistentemente, o primeiro e o segundo maior vendedor de armas a nível global nas últimas três décadas.

Por outro lado, as exportações de armas russas para a China aumentaram, entre os dois períodos, em 39%, provando que estes dois países permanecem importantes aliados comerciais, sobretudo na área militar.

Na Europa, a França continua a ser uma importante potência de exportação de armas e reforçou a sua posição com um aumento de 48% entre os dois períodos, sendo os seus principais destinatários a Índia, que passou a ter Paris como segundo maior fornecedor de armas, logo a seguir a Moscovo e ultrapassando os EUA.

"A França está a ganhar uma fatia maior do mercado global de armas, à medida que as exportações de armas russas diminuem", explicou Wezeman.