"Ó Zé, o nosso menino ganhou a corrida", reagiu Maria Salete, de 80 anos, que não disfarça o orgulho e a alegria de ver o rapazinho que passeava atrás do avô com "uma varinha na mão" escolhido para secretário-geral das Nações Unidas.

Maria fala em "bondade" para caracterizar "Toni", como é apelidado em Donas o então rapaz que "ajudava todos e brincava com todos" e que "saía ao pai, que era a coisa mais boa que havia aí".

"Ontem até parece que vibrámos", contou aos jornalistas a habitante de uma "terra pequenina" que espera agora que Guterres "faça muito por todas as nações".

Foi nesta aldeia, com cerca de 800 habitantes, que Guterres passou as suas férias de criança, na casa dos avós, o que viria a marcar o seu próprio imaginário infantil, como sempre referiu.

Nas Donas, nunca se tinha acompanhado o processo de escolha do secretário-geral da ON, com tanto interesse e algumas pessoas até se referem à candidata Kristalina Georgieva com palavras menos agradáveis.

"Aquela senhora não tinha nada que lá se enfiar", comentou Maria Salete.

Maria da Lameira, apoiada na sua bengala, tenta conter a emoção enquanto fala à comunicação social das recordações que tem de quando era empregada dos avós de Guterres.

"Aquilo era uma joia. Um coração de ouro", disse a octogenária que ficou "doida de contente", depois de receber um telefonema de uma senhora de Lisboa a dar-lhe as boas novas.

Dos tempos de criança de Guterres, Maria da Lameira lembra-se do antigo primeiro-ministro ajudar as pessoas, como um episódio em que pediu à mãe para "dar uns calções" a um rapaz.

"Se ele não vier [às Donas] vou lá eu. Gostava de estar lá. Ai isso era, era feliz, se eu estivesse lá ao pé dele", admite a antiga empregada de família, referindo o dia em que Guterres tomará posse como secretário geral da ONU.

José Aguiar Moreira, de 78 anos, exibe com orgulho na sua oficina de serralharia um autocolante dos tempos de campanha de Guterres como candidato a primeiro-ministro, onde se pode ler "um beirão não se esquece do interior".

"É uma pessoa excecional", afirmou à Lusa, recordando que quando "Toni" estava nas Donas, "era sempre ele a ler a epístola na missa" - que lia "certinho e direitinho", acrescenta o filho.

Guterres era "um homem respeitador das opiniões e ideias dos outros", frisa Sampaio Lopes, que foi presidente da autarquia do Fundão quando Guterres era presidente da Assembleia Municipal.

Desses tempos, recorda-se de ouvir "Guterres a pedir calma, respeito e consideração pelos outros", quando o antigo autarca queria "levantar a voz na assembleia".

Na aldeia, espera-se agora a presença do antigo primeiro-ministro para inaugurar a Casa das Memórias das Donas, onde ficarão instaladas as peças que ele doou à autarquia quando era líder do executivo, disse à Lusa o presidente da União das Freguesias do Fundão, Malícia da Trindade.

Entre as peças, estão presépios em madrepérola oferecidos por Yasser Arafat, um fato e capacete de piloto da Força Aérea com o nome gravado de António Guterres e uma bandeira portuguesa que lhe foi entregue em Timor-Leste.

Já o antigo presidente da extinta junta de Donas, Vítor Dias, avançou que vai ser criada uma comissão para organizar uma homenagem popular, "simples", à imagem de Guterres.

O antigo primeiro-ministro português António Guterres foi quarta-feira indicado como o favorito para secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) pelo Conselho de Segurança à Assembleia-geral.

O Conselho de Segurança anunciou que o português foi o "vencedor claro" da votação, recebendo 13 votos de encorajamento e duas abstenções, uma das quais de um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança com direito de veto.

Este órgão, com poder de veto, deverá aprovar hoje uma votação formal a indicar o nome de António Guterres para a Assembleia-Geral das Nações Unidas, formalizando assim a eleição do sucessor de Ban Ki-moon.

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