Tiago Sousa era atleta de alta competição de tumbling, no Lisboa Ginásio Clube (LGC), quando, em 12 de janeiro de 2005, com 21 anos, sofreu um acidente num treino e contraiu uma lesão grave que o remeteu para uma cadeira de rodas.

“Estava a fazer um treino e [num mortal] parei no ar, caí com a testa e o corpo foi todo para a frente, fazendo a luxação das [vértebras cervicais] C5 e C6. Percebi que era muito grave, porque chegavam pessoas ao pé de mim e eu gritava porque não me conseguia levantar. Quando cheguei ao hospital, percebi que era algo realmente grave, porque não mexia nada do pescoço para baixo”, começa por recordar, em entrevista à agência Lusa.

O acidente conduziu-o a um longo processo de tratamentos, fisioterapia e, ao fim de dois anos, abriu-lhe um novo rumo, quando saiu do Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão e assistiu a um treino de tumbling, altura em que percebeu que era ali que queria estar. De outra forma, por outro meio.

O ex-aluno do curso Técnico-Profissional de Desporto tirou uma especialização como instrutor de fitness, fez um curso de micro expressões e linguagem corporal e tornou-se preparador físico de vários atletas, colaborando ainda na preparação de atletas do Projeto Olímpico de trampolins e da seleção nacional.

Hoje, com 35 anos, o desafio de Tiago Sousa é outro. Conquistou alguma atividade motora nos membros inferiores e consequentemente o acesso aos testes com o exoesqueleto HAL (“Hybrid Assistive Limb”), que vão decorrer em Jacksonville, nos EUA.

“Este é um grande objetivo ter conseguido ir para o Cyberdyne HAL. De 14 a 24 de fevereiro, vou fazer os testes para ver se consigo ficar os três meses. Em 2016, tentei entrar, só que ainda não tinha os pré-requisitos de atividade muscular para ingressar nesse programa. De há dois, três anos para cá comecei a treinar e a ser o bio-atleta de alta competição para conseguir alcançar este grande objetivo que é ingressar neste programa”, explica.

Caso seja bem-sucedido nos testes, Tiago Sousa, que, entretanto, já recuperou grande parte da mobilidade dos membros superiores, usará diariamente, durante 45 minutos a uma hora, o exoesqueleto HAL.

“A diferença entre este exoesqueleto e os outros é que, para este exoesqueleto HAL funcionar, tem de haver atividade muscular, nem que seja o mínimo. Porquê? Que vai fazer este exoesqueleto? Vai potenciar essa mensagem. Ou seja, se eu quiser por o exoesqueleto a trabalhar, e não tiver nenhuma atividade muscular, ele não vai mexer”, esclarece.

A expectativa de Tiago Sousa não é, contudo, “sair de lá a andar”, mas dar um passo rumo à sua total recuperação.

“A minha ambição é a de sempre, a de criar metas para alcançar o grande objetivo. Não estar tão focado nesse objetivo de sair da cadeira de rodas e andar, que vai ser o objetivo para o resto da minha vida ou até acontecer, mas ficar mais focado no processo e em todas as conquistas que vou conseguindo dia a dia”, frisa.

Mas para conseguir realizar o programa, o preparador físico desenvolveu uma campanha de angariação de fundos para tentar reunir 10 mil euros para os testes e 30 mil euros para os três meses da Cyberdyne HAL.

Mediante este desafio, Beatriz Martins não hesitou em juntar-se à causa de “um profissional incrível”, fazendo um apelo nas redes sociais e disponibilizando-se para as iniciativas que estão a ser desenvolvidas, como aulas de fitness, zumba ou ‘workshops’.

“Tocou-me um bocadinho mais no coração, é meu amigo, é meu treinador e, por ser uma pessoa tão próxima, sei o quanto ele quer isto, o quanto trabalhou para isto e acho que é altura de se focar um bocadinho mais nele próprio”, defende a ginasta, assegurando que “nunca foi muito estranho” o seu preparador “estar numa cadeira de rodas e nunca houve um dia em que achasse que as limitações do Tiago estavam a limitar” o seu treino.

Em vésperas da partida, Tiago Sousa mostra-se extremamente confiante naquela que chama a qualificação para os seus Jogos Olímpicos.

“Sinto-me tão forte fisicamente e mentalmente que, mesmo que não alcance [a qualificação], sei que vai aparecer alguma coisa e eu hei de conseguir alcançar. Mas o objetivo é ir lá e, com toda a minha força, e de todas as pessoas que estão à minha volta, conseguir fazer o programa e viver sozinho”, conclui Tiago Sousa.

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