
“O Titanic é a última testemunha ocular sobrevivente do desastre, e ainda tem histórias para contar,” disse Parks Stephenson, analista do Titanic, à BBC.
Mais de cem anos depois, uma análise detalhada de uma digitalização em tamanho real do Titanic revelou novas informações sobre as últimas horas do navio condenado às profundezas do mar.
A réplica 3D mostra a violência com que o navio se partiu em dois enquanto afundava, após ter colidido com um iceberg em 1912 — 1.500 pessoas perderam a vida no desastre. Os destroços, que se encontram a 3.800 metros de profundidade nas águas geladas do Atlântico, foram mapeados com recurso a robôs subaquáticos.
A imagem foi simulada por uma computador, e permitiu aos investigadores descobrir perfurações no casco, do tamanho de folhas A4, que se acredita terem sido suficientes para causar a destruição do navio.
Mais de 700 mil imagens, captadas de todos os ângulos, foram utilizadas para criar o “gémeo digital”, revelado em exclusivo ao mundo pela BBC News em 2023.
Devido ao tamanho dos destroços e à escuridão nas profundezas do oceano, explorá-los com submerrsíveis só permite ter uma visão parcial de todo o navio. A digitalização, no entanto, oferece a primeira visão completa do Titanic, com a proa ereta no fundo do mar, tal como a vemos afundar nas imagens emblemáticas do filme.
Mas, a 600 metros de distância, a popa encontra-se reduzida a um amontoado de metal retorcido. Os danos resultaram do impacto violento com o leito marinho, depois de o navio se ter partido ao meio.
“É como uma cena de crime: é preciso ver as provas no contexto do local onde se encontram,” relatou Parks Stephenson. “Ter uma visão abrangente de todo o local dos destroços é fundamental para compreender o que aconteceu aqui.” Pela primeira vez, a digitalização permite que o estudo continue nesse sentido.
A digitalização revela novos detalhes em grande plano, incluindo uma escotilha que terá sido, muito provavelmente, destruída pelo icebergue. Este dado confirma os relatos de sobreviventes que disseram que o gelo entrou nalgumas cabines durante a colisão.
Até ao último suspiro, havia luz
É também possível observar uma sala de caldeiras, confirmando a teoria, deixada por testemunhas, de que os engenheiros do navio trabalharam até ao fim para manter as luzes acesas, mesmo já debaixo de água.
Sobre o convés da popa, uma válvula em posição aberta indica que o vapor ainda estava a ser direcionado para o sistema de geração de eletricidade. O trabalho foi feito pela equipa de engenheiros liderada por Joseph Bell, que permaneceu a bordo a alimentar as caldeiras com carvão para manter as luzes acesas.
Todos perderam a vida no desastre, mas as suas ações heróicas salvaram muitas pessoas, afirmou Parks Stephenson: “Mantiveram as luzes e a energia a funcionar até ao fim, para dar tempo à tripulação de lançar os botes salva-vidas com alguma luz, em vez de na escuridão total,” disse à BBC.
“Conseguiram conter o caos o máximo de tempo possível, e tudo isso está, de certa forma, simbolizado por esta válvula de vapor aberta ali, na popa.”
A digitalização foi analisada para um novo documentário da National Geographic e da Atlantic Productions, intitulado Titanic: The Digital Resurrection [Titanic, a Ressureição Digital].
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