"Passaram-se 13 dias sobre o início da maior tragédia nacional que sofremos, nos tempos até onde a memória nos consegue levar, mas ainda não sabemos: porquê?", questionou a deputada e vice-presidente do PSD Teresa Morais, no início de um debate marcado pelo partido sobre "A segurança, a proteção e a assistência das pessoas no decurso do trágico incêndio de Pedrógão Grande".

Ao contrário do debate quinzenal de quarta-feira, o início do debate de hoje foi tenso, com troca de acusações entre as bancadas de esquerda e a do PSD, tendo mesmo José Matos Correia, vice-presidente da Assembleia e que conduzia os trabalhos, sentido necessidade de intervir para pedir que deixassem ouvir a intervenção de Teresa Morais.

Em resposta à intervenção do PSD, quer o PS quer o BE acusaram o PSD de contradição e desnorte, por exigir respostas imediatas ao mesmo tempo que propôs uma comissão técnica independente, já aceite, para apurar os factos relacionados com este incêndio.

"Qual é o PSD com que dialogamos, o da intervenção de Teresa Morais ou o que nos vem dizer que é preciso sentido de responsabilidade? Responda-nos qual é a crise de identidade que vai na sua bancada, temos responsabilidade, não queremos leviandade", afirmou o socialista Jorge Lacão.

Já o bloquista José Manuel Pureza declarou que "o PSD nesta matéria tem dias": "Ontem [quarta-feira] Pedro Passos Coelho apelava a que houvesse um esclarecimento cabal, rigoroso, hoje a senhora deputada vem requerer respostas já. Isso mostra como o PSD está profundamente desnorteado", acusou.

Na resposta, Teresa Morais negou qualquer contradição, dizendo haver respostas que exigem um aprofundamento técnico e outras mais imediatas.

"Não nos vão silenciar", afirmou.

Como exemplo de uma pergunta que o PSD entende ser de resposta imediata, a deputada apontou um caso de um bombeiro ferido "que andou a deambular dez horas pelo país" antes de ser admitido no hospital.

"Se fosse um político, um ator, um futebolista tínhamos 'briefings' sobre o seu estado de saúde, temos quatro deputados feridos e ninguém sabe nada sobre o seu estado de saúde", lamentou.

Teresa Morais classificou as consequências deste incêndio como "a tragédia maior e mais horrenda" de que há memória, e colocou, entre outras, questões sobre o não encerramento "em tempo útil" da estrada 236-1 ou sobre o reduzido número de operacionais da GNR - "apenas três", número corrigido para 31 por Jorge Lacão - no posto territorial de Pedrógão Grande quando deflagrou o incêndio.

"Não nos basta assistir ao cortejo de responsáveis deambulando por territórios cobertos de cinzas, anunciando levantamentos que tardam e medidas que não se sabe quando chegam", disse, repetindo a acusação já feita pelo PSD de que o Estado falhou.

Num debate a que assistiram a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, o secretário de Estado Jorge Gomes, e o ministro do Planeamento Pedro Marques, além do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares Pedro Nuno Santos, o PCP e os Verdes optaram por centrar as suas intervenções iniciais no ordenamento florestal.

"Da bancada do PCP, a última coisa que assistirá é podermos usar uma lógica de passa culpas e responsabilização política sem que estejam responsabilidades apuradas", assegurou o líder parlamentar do PCP João Oliveira, desafiando Teresa Morais a reconhecer "os erros das opções do Governo PSD/CDS" em matérias como as freguesias, os serviços de saúde de proximidade ou o despovoamento do mundo rural.

Também o deputado do PEV José Luís Ferreira lamentou que o PSD nada tenha dito sobre ordenamento florestal e questionou o partido sobre o travão na plantação de eucaliptos.

José Manuel Pureza questionou ainda o PSD sobre a razão porque não concretizou a renegociação do SIRESP (Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal) durante o seu Governo, apesar de ter iniciado este processo.

Na resposta às várias bancadas, Teresa Morais disse não aceitar qualquer acusação de responsabilidade.

"Aquilo que estamos a fazer aqui é aquilo que o povo quer que se faça", afirmou, acusando as bancadas de PCP e BE de desresponsabilização por apoiarem no parlamento o Governo minoritário do PS no parlamento.