O Presidente dos Estados Unidos está a ser criticado pela comunidade científica depois de sugerir, numa conferência de imprensa, que uma vacina com desinfetante poderia ser uma forma de travar o novo coronavírus. Na mesma ocasião, Donald Trump ainda sugeriu irradiar os pacientes com luzes UV, uma ideia entretanto descartada de imediato por um médico presente na sala.

As polémicas declarações foram feitas durante o briefing habitual da Casa Branca para fazer um ponto de situação da pandemia nos EUA, após terem sido apresentados resultados de um estudo governamental que indicava que o covid-19 aparentava ficar enfraquecido quando exposto à luz do sol e ao calor. A mesma investigação dava conta de que a lixívia é capaz de matar o vírus em cinco minutos e o álcool ainda mais rápido.

Apesar de notar que estas conclusões devem ser tratadas com cautela, Trump avançou com sugestões para novas linhas de investigação de tratamentos.

"Suponhamos que atingimos o corpo com um tremendo raio ultravioleta ou uma luz muito potente? Diria que isso ainda não foi estudado, mas que o vão testar", disse a Deborah Birx, investigadora presente na conferência. "E suponhamos que conseguiam transmitir essa luz para dentro do corpo, seja através da pele ou por outro meio, eu penso que vocês iam testar isso também. Parece interessante", continuou Trump.

"E depois vejo o desinfetante que mata o vírus num minuto. Um minuto. Há alguma forma de podermos fazer algo como isso, injetando [desinfetante], quase uma limpeza? Seria interessante verificar isso", acrescentou.

"Não sou médico, mas sou uma pessoa com uma boa vocês sabem o quê", disse ainda, apontando para a cabeça.

Voltando-se de novo para Birx, o presidente norte-americano perguntou se luz e calor estavam a ser usados no tratamento do covid-19. "Não como tratamento", respondeu a médica. "Claro, a febre é uma coisa boa. Mas não estudamos ainda os efeitos do calor ou da luz.

"Acho que seria bom olhar para isso", replicou Trump.

Estes comentários provocaram uma onda de protestos entre os cientistas.

"A ideia de injetar no corpo ou ingerir qualquer tipo de desinfetante é irresponsável e perigosa", disse à NBC o médico Vin Gupta, especialista pulmonar e em cuidados intensivos.

Inúmeros médicos e cientistas também criticaram os comentários de Trump nas redes sociais.

"Da mesma forma, a autoimolação pelo fogo pode ser uma alternativa útil", ironizou o centro de investigação francês Marseille Immunopôle, enfatizando que os métodos sugeridos pelo presidente americano "matam o vírus e os pacientes!".

"Pare de transmitir estas conferências de imprensa sobre o coronavírus. Elas são uma ameaça à vida. E, por favor, não beba ou injete desinfetante", escreveu no Twitter Walter Shaub, ex-diretor do escritório federal encarregado das questões éticas (EMB) sob a administração democrata de Barack Obama.

"As conferências de imprensa de Trump são um perigo para a saúde pública. Boicote a propaganda. Ouça os especialistas. E por favor, não beba desinfetante", criticou Robert Reich, ex-secretário do Trabalho do presidente democrata Bill Clinton.

Nas redes sociais, muitos utilizadores divertiram-se com as declarações do presidente norte-americano e com o óbvio embaraço da Dra. Deborah Birx, membro do comité de crise da Casa Branca sobre o vírus, durante as declarações do presidente.

Os Estados Unidos registaram 3.176 mortos nas últimas 24 horas devido à pandemia da covid-19, um dos piores registos diários no país, de acordo com a contagem da Universidade Johns Hopkins.

No total, quase 50 mil pessoas morreram nos Estados Unidos. O número de infetados subiu para mais de 860 mil, depois de terem sido identificados 26.971 novos casos.

No final da semana passada, os Estados Unidos registaram os dois piores balanços diários: mais de 3.800 e de 4.500 mortos. Uma situação que foi justificada em parte devido à adição de mortes “provavelmente ligadas” à covid-19 e que anteriormente não tinham sido levadas em consideração.

O último balanço diário realizado na noite de quinta-feira (madrugada de hoje em Lisboa) é a terceira mais mortal registada num país desde o início da pandemia.

Apesar desta contabilidade, vários estados norte-americanos, como Texas, Vermont e Geórgia, decidiram aliviar as restrições e autorizaram certas empresas a reabrir portas.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.

Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns países começaram entretanto a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos, como Dinamarca, Áustria, Espanha ou Alemanha, a aliviar algumas das medidas.

* Com agências