"Estou aqui para ouvir a vossa voz", disse Trump, num discurso apaziguador. "Somos todos irmãos e irmãs", acrescentou, numa postura que contrastou com a dos restantes comícios da sua campanha.

Atrás de Hillary nas pesquisas a menos de 70 dias da eleição presidencial, e ciente da necessidade de ampliar a sua base eleitoral, o magnata do setor imobiliário de Nova Iorque está a tentar há algumas semanas atrair votos entre as minorias.

Segundo uma pesquisa do jornal USA Today e da Universidade de Suffolk, publicada na última quinta-feira, 1 de setembro, apenas 4% dos eleitores negros apoiam Trump.

A comunidade afro-americana, que representa 12% do eleitorado, é tradicionalmente mais próxima dos democratas. Nas eleições de 2012, por exemplo, 93% desta comunidade votou em Barack Obama.

Hillary também exibe um alto índice de apoio entre este eleitorado: estima-se que nas primárias, disputadas com o senador Bernie Sanders, tenha recebido 90% dos votos da comunidade negra.

Insistindo no direito a viver em segurança e "com um emprego bem remunerado", o republicano prometeu, no seu discurso, uma outra política para reconstruir Detroit, com "fábricas por todo o lado e escolas".

"Vou fazer as coisas moverem-se para vocês", prometeu, falando sobre "as lojas fechadas, as pessoas sentadas nas calçadas sem emprego, sem nada para fazer".

Depois, o candidato republicano participou do culto religioso, tentando acompanhar o ritmo da música.

Mais de 100 manifestantes concentraram-se em frente à igreja para esperar o magnata. "Trump não terá o meu voto", dizia um dos cartazes agitados na multidão.

Em Detroit, muitos afro-americanos reconhecem que suas condições de vida não melhoraram significativamente durante os dois mandatos de Barack Obama, o primeiro presidente negro na história do país, mas consideram que Trump não é - nem de longe - a melhor opção.

"Estudámos o programa do Partido Republicano e concluímos que é insuficiente. Escutámos o candidato deles e concluímos que é indignante", disse Eric Williams, que dá workshops para pequenos empresários negros na Universidade de Wayne State, radicada nessa enorme cidade do norte dos Estados Unidos.

"Não há absolutamente nada que ele possa fazer para melhorar a sua imagem entre a comunidade afro-americana", acrescenta.

Charelle, que não quis dar o seu sobrenome, diz que é "absurdo" imaginar que Trump responderia realmente aos problemas da sua comunidade: "É um pretexto para tirar fotos e dizer: 'Olhem, não sou racista!'".

"Não esquecemos"

O encerramento das grandes fábricas de automóveis desde a década de 70 teve efeitos devastadores em Detroit, com bairros inteiros em estado avançado de abandono.

"Foi a classe negra a que mais sofreu", afirma o professor Reynolds Faerley, da Universidade de Michigan, que estuda a evolução étnica da população da cidade.

Além do programa de campanha, a personalidade e as posições adotadas no passado por Trump despertam fortes resistências na comunidade negra.

Os democratas lembram regularmente aos eleitores que Trump liderou uma campanha de baixo nível que questionava - com o apoio da ala de direita do Partido Republicano - a nacionalidade de Obama.

"Nós não esquecemos isso", diz Eric Williams, acrescentando que "isso diz muito sobre este homem".

Para David Bullock, ativista dos direitos civis e candidato a conselheiro municipal da cidade, tanto os republicanos como os democratas dececionam a população dos bairros mais desfavorecidos "há vários anos".

Mas Clinton tem uma vantagem decisiva sobre Trump: "ela construiu uma relação duradoura de confiança com os representantes da comunidade negra", comenta Bullock.

Frente à dificuldade de reverter os votos a seu favor, a estratégia do bilionário poderia consistir em convencer uma parte desse eleitorado a ficar em casa no próximo dia 8 de novembro.

Segundo Bullock, essa tática poderia ajudá-lo em estados como Carolina do Norte, onde a corrida presidencial está muito disputada, e o voto negro pode ser determinante.

"Do ponto de vista de Trump, (esta visita) tem a sua lógica, mas sabemos que não se trata de ajudar Detroit", concluiu.