A surpresa veio do Secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo, que denunciou “violações” das regras da Aliança e “da política do facto consumado” levada a cabo por Ancara (capital da Turquia) em várias crises regionais.
Pompeo foi “muito direto” na última reunião da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ao pedir à Turquia para “voltar a uma atitude de aliada”, disse um participante à agência de notícias francesa AFP. “A sua intervenção foi muito curta, mas muito clara”, afirmou outro dos participantes.
O Secretário de Estado norte-americano falou do “presente” de Ancara à Rússia, com a compra do sistema de defesa antimíssil móvel S400, “não interoperável com os sistemas da NATO”.
Mike Pompeo lamentou também a “captura de reféns”, fora dos planos de defesa e das parcerias previstas pela NATO, uma atitude que “enfraquece a coesão da Aliança”.
Todas as decisões devem ser tomadas por unanimidade no seio da Aliança.
As ações turcas tinham sido denunciadas na Cimeira de Londres, em 2019, pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, mas o Presidente Donald Trump tinha protegido e defendido o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
Mas o Secretário de Estado norte-americano já tinha considerado as ações da Turquia “muito agressivas” durante o seu encontro com o Presidente francês, a 16 de novembro, em Paris.
Porém, o relatório da sua intervenção pelos seus serviços hoje não fazia qualquer menção às suas posições contra Ancara.
Questionado pela AFP, um porta-voz americano recusou-se a negar ou confirmar as declarações de uma reunião à porta fechada.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, estava visivelmente “desconfortável”, disse um dos participantes.
Emmanuel Macron falou ao telefone com Jens Stoltenberg, após a reunião. “O intercâmbio foi uma oportunidade para abordar, diretamente e com confiança, as preocupações expressas por um número crescente de aliados sobre as escolhas estratégicas feitas pela Turquia, que requerem esclarecimento, através de uma explicação franca no seio da Aliança, no novo contexto transatlântico” com o Presidente Joe Biden, disse o Eliseu num comunicado.
A gravidade da intervenção de Mike Pompeo durante a videoconferência “desinibiu” os outros participantes, e, pela primeira vez, foram apresentadas acusações contra Ankara.
“A Turquia está finalmente a ser vista como um problema para a Aliança, que tinha sido negado até agora, e terá de ser resolvido”, comentou um responsável da NATO.
O chefe da diplomacia luxemburguesa, Jean Asselborn, lamentou assim “que um Estado aliado, a Turquia, estivesse diretamente envolvido no conflito de Nagorny Karabakh, facilitando o envolvimento de mercenários na Síria”.
“Insistimos nas nossas posições sobre Nagorno-Karabakh, o Mediterrâneo Oriental, a Líbia e a intervenção ilegal contra o nosso navio”, disse o ministro turco na sua conta do Twitter.
Uma fragata naval alemã envolvida na missão europeia Irini intercetou um navio turco a 20 de novembro por suspeita de violação do embargo ao armamento decretado pela ONU contra a Líbia.
Várias delegações consideraram que tinha chegado o momento de sancionar a Turquia.
Os Estados Unidos aprovaram medidas económicas na sequência da aquisição do sistema de defesa russo. Bloqueadas por Donald Trump, deverão entrar em vigor mecanicamente com a chegada da administração do Presidente Joe Biden, foi explicado.
O Canadá, por seu lado, suspendeu as exportações de componentes eletrónicos utilizados pelo drone de combate turco TB2, utilizado no apoio às forças do Azerbaijão durante o conflito em Nagorny Karabakh.
Os europeus deverão decidir numa cimeira, a 10 de dezembro, se deverão ser adotadas novas medidas contra o comportamento de Ancara no Mediterrâneo oriental e as violações do embargo das Nações Unidas ao fornecimento de armas à Líbia.
A Comissão Europeia preparou um pacote de opções, incluindo sanções económicas setoriais, pronto a ser utilizado.
A unanimidade é necessária para a sua utilização e a Alemanha tem até agora bloqueadas as suas medidas na esperança de encontrar um acordo para “desenvolver uma relação verdadeiramente construtiva com a Turquia”.
“Haverá decisões na cimeira, mas o seu alcance ainda não foi decidido”, disseram vários responsáveis europeus à AFP. “Será necessário ver que posições a Alemanha e a Polónia irão adotar”, explicou um ministro.
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