O primeiro-ministro afirmou hoje, logo após chegar a Kiev, que está na Ucrânia para transmitir um sinal de apoio na luta deste país pelos seus direitos à soberania, integridade territorial e pela conquista da paz.

António Costa fez estas declarações aos jornalistas logo à saída da estação central de Kiev, onde chegou de comboio às 10:30 locais, menos duas horas em Lisboa, vindo da fronteira polaca.

“Estou aqui para corresponder ao convite que me foi dirigido pelo meu colega primeiro-ministro da Ucrânia [Denys Shmygal e para podermos concretizar os apoios que temos negociado de forma bilateral”, começou por referir o líder do executivo português.

No plano político, António Costa salientou que a sua visita representa um sinal de que Portugal “continua a apoiar a Ucrânia na luta muito dura que tem vindo a travar pelo seu direito à soberania, integridade territorial e pela conquista da paz”.

“Vou agora visitar uma das zonas mais atingidas pela guerra”, acrescentou.

Numa longa viagem, feita em diversos meios de transporte, António Costa saiu de Varsóvia ao fim da tarde, às 18:00 de Lisboa, e aterrou 35 minutos depois na Base Aérea de Rseszow.

Depois, o líder do executivo português, que está acompanhado pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Francisco André, e pelo embaixador de Portugal na Ucrânia, António Alves Machado, seguiu de carro para Prezemysl, na fronteira entre a Polónia e a Ucrânia, onde jantou.

Na estação ferroviária de Prezemyls, apanhou então um comboio noturno para Kiev, tendo partido às 21:30 de Lisboa, menos duas horas do que na Ucrânia.

O primeiro-ministro assinalou logo a chegada a Kiev com uma mensagem na rede social Twiter em que expressa a sua solidariedade à Ucrânia "perante a barbara agressão russa".

"Acabei de chegar a Kiev, respondendo ao convite feito pelo meu homólogo ucraniano. É com emoção e respeito que aqui venho, em sinal de solidariedade para com este País e este Povo, perante a bárbara agressão russa.Portugal apoia a Ucrânia", escreveu António Costa no Twitter numa mensagem em português e inglês acompanhada por uma foto da sua chegada no comboio.

"O que aconteceu em Irpin foi verdadeiramente criminoso"

O primeiro-ministro esteve hoje em Irpin, onde os ucranianos travaram a progressão russa até Kiev, viu áreas residenciais destruídas e manifestou-se impressionado com relatos de atos criminosos do exército russo.

Irpin, situada a cinco quilómetros a noroeste de Kiev, que antes da guerra tinha 100 mil habitantes, foi palco de violentos combates entre o final de fevereiro e março.

Se os russos tomassem Irpin, de acordo com as Forças Armadas ucranianas, teriam caminho até Kiev, mas a resistência foi tenaz. Em 02 de abril, o Governo ucraniano anunciou que tinha recuperado o controlo da região com a retirada das forças russas.

Uma secretária do Conselho Municipal de Irpin disse a António Costa que, dos 100 mil habitantes, apenas 25 mil regressaram à cidade. Destes, cinco mil nunca a abandonaram, apesar da elevada destruição de infraestruturas.

Depois de escutar relatos sobre o que aconteceu na cidade durante a fase mais intensa de guerra, António Costa afirmo: “Estou impressionado com a brutalidade do que aconteceu com as populações civis".

"Sabemos que a guerra é sempre dramática, mas a guerra tem regras. Aqui, já não estamos a falar de uma guerra normal, mas de atos verdadeiramente criminosos”, declarou António Costa.

A intervenção russa em Irpin, prosseguiu, “visou a pura destruição da vida das pessoas”.

“É fundamental que as investigações prossigam e que todos os crimes de guerra sejam devidamente apurados e punidos. A guerra também tem de obedecer à lei. O que aconteceu aqui foi inadmissível”, frisou.

António Costa esteve em Irpin cerca de uma hora e regressou a Kiev para se reunir com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Encontro com Zelensky

Durante a sua presença na capital ucraniana, no plano institucional, além da reunião com Volodymyr Zelensky, o primeiro-ministro português terá também um encontro com o seu homólogo, Denys Shmygal, de quem partiu o convite formal para que visitasse a Ucrânia.

António Costa, nas suas sucessivas intervenções públicas, tem qualificado como “bárbara” a intervenção militar russa na Ucrânia, anunciou medidas de auxílio humanitário, financeiro e militar às autoridades de Kiev e manifestou apoio a todas as decisões da União Europeia de aplicar sanções ao regime de Moscovo.

Na sexta-feira, durante a sua presença em Varsóvia, o primeiro-ministro referiu-se ao encontro que vai ter com Volodymyr Zelensky esta manhã.

“Reativamente aos contactos que manterei na Ucrânia com o Presidente Zelensky e com o primeiro-ministro ucraniano incidirão sobre as formas de apoio que, do ponto de vista bilateral, Portugal pode continuar a assegurar ao nível do fornecimento de equipamento militar, humanitário e financeiro. Vamos também discutir a questão da perspetiva europeia da Ucrânia, visando construir uma posição de unidade na União Europeia”, adiantou.

Em relação ao objetivo da Ucrânia de aderir à União Europeia, António Costa tem adotado uma atitude de prudência, considerando essencial evitar uma divisão entre os 27 Estados-membros sobre esta matéria.

“Os 27 Estados-membros da União Europeia têm de possuir a abertura suficiente para encontrarem o estatuto especial que é necessário para a Ucrânia. Não nos agarremos a designações e concentremo-nos em ser pragmáticos”, defendeu.

O primeiro-ministro adiantou mesmo uma das possíveis soluções de consenso para evitar divisões na União Europeia em torno da discussão sobre o nível da futura integração europeia da Ucrânia.

“Temos de ser criativos e encontrar soluções. Tenciono identificar quais as necessidades em concreto requeridas pelas autoridades ucranianas e, partir daí, procurar construir uma solução imediata que una toda a União Europeia. Acho que é muito importante a integração da Ucrânia no mercado comum, com a libertação das regras aduaneiras. O papel de Portugal é ouvir todos e procurar encontrar um ponto de consenso”, acrescentou.

No plano militar, esta semana, a ministra da Defesa, Helena Carreiras, afirmou em Bruxelas que Portugal está a preparar o envio de mais 160 toneladas de material para a Ucrânia, incluindo equipamento militar.

Em relação ao auxílio humanitário, o primeiro-ministro afirmou que Portugal vai contribuir com 2,1 milhões de euros, dos quais um milhão de euros para as respostas das Nações Unidas e 1,1 milhões adicionais.

Em Varsóvia, na sexta-feira, António Costa avançou que Portugal vai dar apoio material às autoridades polacas para o acolhimento de refugiados ucranianos num valor até 50 milhões de euros – um programa que inclui a construção de casas pré fabricadas, produtos farmacêuticos, alimentos, calçado e roupa.