“Se puder haver condições para que no Natal não morra gente, isso em si é positivo, mas o que importa fundamentalmente é uma solução do conflito e a solução só é possível com base na carta das Nações Unidas e no direito internacional”, afirmou Guterres à Lusa e à Reuters, à margem de uma cerimónia em que recebeu o Prémio Universidade de Lisboa relativo a 2020.
As tropas russas a combater na Ucrânia observarão um cessar-fogo de 36 horas entre o meio-dia de 06 de janeiro e a meia-noite de 07, decretou hoje o Presidente Vladimir Putin.
Num comunicado, a Presidência russa (Kremlin) afirmou que Putin respondeu a um apelo do patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo, divulgado hoje de manhã.
Em reação, um conselheiro do Presidente ucraniano, Mykhailo Podoliak, qualificou de “hipocrisia” o anúncio de um cessar-fogo russo na Ucrânia e apelou às tropas russas para abandonarem o país.
Para Guterres, “naturalmente que o Natal é um período especial e uma festa de ucranianos e russos”, mas, apesar do cessar-fogo insiste numa solução para o conflito.
“Neste momento, as condições ainda não estão criadas para uma solução de paz efetiva no imediato, mas espero que seja possível criar as condições para que uma solução de paz baseada na Carta das Nações Unidas e no direito internacional possa prevalecer”, afirmou.
O secretário-geral da ONU fez ainda uma referência ao acordo de exportação de cereais retidos na Ucrânia, através do Mar do Negro, destacando a importância do entendimento alcançado em julho entre as Nações Unidas e as autoridades de Kiev, Moscovo e Istambul, e indicando que mais de 15 milhões de toneladas já foram transportados.
“Tem havido algumas limitações em relação ao número das inspeções, mas a dimensão dos barcos tem aumentado, o que tem permitido manter o ritmo, não tão elevado como desejaríamos”, afirmou.
António Guterres enfatizou, por outro lado, uma mensagem que já tinha deixado na visita que realizou ao porto de Odessa, no sul da Ucrânia, em 19 de agosto, sobre a exportação de alimentos russos: “Continuamos também empenhados em resolver os problemas da exportação de adubos e cereais russos de que a comunidade internacional também precisa”.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,9 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.919 civis mortos e 11.075 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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