A conversa entre Macron e Biden, a quarta que mantêm sobre a crise entre a Rússia e a Ucrânia, serviu para constatar a sua opinião de que há que “tomar nota dessas medidas”, “avaliar a qualidade desse anúncio” e “comprovar o seu alcance e significado”, indicaram fontes da Presidência francesa.

Foi o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, quem comunicou hoje a retirada de algumas unidades militares russas da fronteira com a Ucrânia, mas sublinhou que não se tratou de uma reação à “histeria” do Ocidente, apenas do que estava programado.

“Procuramos uma saída para a crise e, para tal, temos que começar por algum lado. Um bom começo é a redução do dispositivo militar. Não retiramos mais conclusões. É necessário construir a saída da crise à medida que as coisas avançam”, disseram as fontes francesas.

Frisaram ainda que devem ser comprovadas as intenções do Presidente russo, Vladimir Putin, porque “ainda podem acontecer muitas coisas”, sendo necessária vigilância e uma aposta na diplomacia.

Embora haja imagens da retirada, a Rússia continua a efetuar “manobras aéreas, navais e terrestres de grande amplitude”, pelo que as operações russas “não terminaram”, apontaram.

“É tudo muito frágil, temos de ser prudentes”, afirmaram as mesmas fontes, insistindo que o objetivo é obter o fim das manobras militares russas, impulsionar “com determinação as negociações no âmbito do formado da Normandia” e abrir a outros parceiros um debate mais alargado em torno da segurança na Europa.

Nesse sentido, Macron terá na quarta-feira uma reunião com o Presidente chinês, Xi Jinping, já que o seu país é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU “e tem uma responsabilidade particular na manutenção da paz e da segurança internacional”.

O atual desafio, segundo o palácio do Eliseu, é comprovar a veracidade dos anúncios russos sobre o fim de um determinado número de exercícios militares e “não tomar nada de ânimo leve”, porque o dispositivo militar russo ao longo da fronteira com a Ucrânia “continua a ser muito impressionante”.

“Antes de se regressar a uma espécie de normalidade podem acontecer muitas coisas”, acrescentou a Presidência da República francesa, salientando a importância de intensificar o trabalho diplomático que levou Macron a falar nos últimos dias com Putin e com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Joe Biden fará hoje um breve discurso sobre a crise na Ucrânia, no qual instará a Rússia a optar pela via diplomática e a dar passos no sentido de uma inversão da escalada do conflito, indicou a Casa Branca.

Biden falará à imprensa pelas 15:30 de Washington (20:30 em Lisboa), a partir da Sala Leste da Casa Branca, segundo o seu gabinete.

O Presidente “vai reiterar que os Estados Unidos continuam abertos a uma diplomacia de alto nível, em estreita coordenação com os nossos aliados, com base nas múltiplas saídas diplomáticas que nós e os nossos aliados oferecemos à Rússia nos últimos meses”, indica a breve nota oficial.

O discurso de Biden ocorre num contexto de ceticismo do Governo norte-americano em relação à intenção da Rússia de reduzir a tensão com a Ucrânia e da insistência de Washington de que Moscovo poderá atacar o país vizinho esta semana.

A Rússia começou hoje a retirar algumas unidades militares próximas da fronteira com a Ucrânia, assegurando que já cumpriram a sua missão, mas sempre sublinhando que se tratou de uma retirada prevista e que não se deveu às pressões do Ocidente.

A tensão entre Kiev e Moscovo aumentou a partir de novembro passado, quando a Rússia destacou mais de 100.000 militares para junto da fronteira ucraniana, o que fez disparar os alarmes na Ucrânia e no Ocidente, que denunciou os preparativos para uma invasão.

Os Estados Unidos insistem que um ataque russo à Ucrânia pode estar “iminente”, enquanto a Rússia nega estar a planear uma invasão e alega que tem o direito soberano a destacar tropas para qualquer ponto do seu território.

O Governo norte-americano anunciou na segunda-feira a transferência das operações da sua embaixada para o oeste da Ucrânia “por segurança”, ao passo que Putin declarou hoje que a Rússia não quer uma guerra na Europa.