À entrada da reunião do Conselho do Atlântico Norte que vai juntar hoje e quarta-feira ministros dos Negócios Estrangeiros no Palácio do Parlamento, na capital da Roménia, João Gomes Cravinho salientou que os apoios concretos serão debatidos numa reunião ao nível dos ministros da Defesa, mas garantiu que Portugal vai reforçar o seu contributo no âmbito do “quadro de conjunto de apoios que a NATO está a oferecer à Ucrânia”.
Questionado sobre medidas em concreto, Cravinho respondeu: “Falarei disso dentro da reunião”.
Gomes Cravinho começou por referir que a reunião de hoje regressa a Bucareste, local onde em 2008, num encontro ao nível de chefes de Estado, se realizou “uma cimeira muito importante onde se estabeleceu a política de portas abertas”.
“Essa posição, essa postura, em relação de Ucrânia, à Geórgia, à Moldávia mantêm-se, portas abertas da NATO, e Portugal tem sempre apoiado claramente essa posição que é tanto mais importante hoje quando temos um cenário de ataque da Rússia à Ucrânia”, ressalvou.
Cravinho foi ainda interrogado sobre a opinião de alguns analistas de que a declaração da cimeira de 2008, que abriu a porta a uma eventual adesão da Ucrânia e Geórgia à NATO e gerou uma forte objeção por parte de Vladimir Putin, que estava presente nesse encontro, terá sido um erro. Meses depois desta declaração polémica, a Rússia invadiu a Geórgia.
“Aquilo que julgo ter acontecido em 2008 é que vários, incluindo na altura a administração [George W.] Bush, procuraram promover a ideia da adesão da Ucrânia. Não se foi por esse caminho, manteve-se a ideia de portas abertas, ou seja, a possibilidade de adesão da Ucrânia à NATO num futuro que não tinha um horizonte temporal definido”, respondeu.
Na opinião de Gomes Cravinho, “é muito difícil dizer que a invasão da Rússia tenha a ver com a não adesão da Ucrânia à NATO”.
“Penso que não há nenhuma justificação para a invasão da Ucrânia, não havia nenhum tipo de ameaça à segurança da Rússia, e aquilo que se fez em 2008 não constitui seguramente uma ameaça para a Rússia”, salientou.
Depois de esta manhã o secretário-geral da NATO ter admitido que a Europa tem que estar preparada para receber mais refugiados vindos da Ucrânia, Gomes Cravinho salientou que Portugal já acolheu cerca de 53 mil refugiados ucranianos e tem à volta de cinco mil crianças em escolas portuguesas, esperando, contudo, que estes cidadãos possam regressar em breve ao seu país de origem.
Questionado sobre se Portugal deveria reconhecer a Rússia como um estado promotor do terrorismo – recomendação ao Governo já entregue na Assembleia da República pelo Chega na sequência da resolução não vinculativa do Parlamento Europeu nesse sentido – Gomes respondeu que essa é uma matéria que não está em discussão.
“Isso é uma matéria que tem estado em discussão no Parlamento Europeu, não é uma discussão nem na mesa da União Europeia, muito menos na mesa da NATO, é um assunto que atualmente não está em discussão”, sublinhou.
Já quanto à meta pedida pela NATO aos Aliados de atingir 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em despesas militares, Gomes Cravinho afirmou que Portugal está a corresponder aos compromissos assumidos pelo país.
“Agora, a situação atual que se vive na Ucrânia tem que ter uma resposta imediata que não tem a ver com metas de percentagem de PIB. Tem a ver com apoio político, militar financeiro e humanitário. Em todas essas frentes Portugal tem dado provas de generosidade e empenho e assim continuará”, sublinhou.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO estão hoje em Bucareste no primeiro de dos dias da reunião do Conselho do Atlântico Norte, na qual deverão acordar formas de aumentar o apoio à Ucrânia e analisar “os desafios colocados pela China”. Foram convidados os ministros dos Negócios Estrangeiros da Finlândia e da Suécia, dois países que aguardam a ratificação para aderir oficialmente à Aliança.
Num jantar de trabalho informal ao final do dia de hoje, fechado à comunicação social, os ministros contarão ainda com a presença do ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, para debater as necessidades mais urgentes do país e o apoio da NATO a longo prazo.
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