Em comunicado, a FMUP avança hoje que os dados constam de um estudo, já aceite para publicação na revista científica Psychiatric Quarterly, que envolveu investigadores da instituição e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.
Durante o período do estado de emergência, decretado devido à covid-19, a equipa de investigadores analisou as idas à Urgência Metropolitana de Psiquiatria do Porto que abrange “cerca de três milhões de habitantes”, tendo, posteriormente, descrito o impacto dos números e as características dos episódios de urgência.
Entre 19 de março e 02 de maio foram registados 780 episódios, comparativamente ao mesmo período de 2019, em que se registaram 1.633 idas às urgências psiquiátricas.
“Percentualmente, houve uma diminuição de 52% no total de episódios”, refere a FMUP, acrescentando que a redução é mais acentuada entre os jovens e as mulheres, “embora estas últimas contabilizem a maioria dos episódios”.
Paralelamente, foram os doentes com perturbações do humor, como depressão, que apresentaram a “queda mais significativa”, com uma redução de episódios a rondar os 68%. Por outro lado, nos doentes com esquizofrenia ou outras perturbações psicóticas, a descida foi “de apenas 9%”.
A preocupação de não sobrecarregar os serviços de saúde, as limitações impostas pelo confinamento e o medo de ser infetado pelo SARS-CoV-2 foram algumas das razões apontadas pelos autores do estudo para esta diminuição.
Citado no comunicado, Manuel Gonçalves-Pinho, investigador da FMUP e do CINTESIS, afirma que a covid-19 teve “um importante impacto”, quer no número, quer nas características das idas às urgências psiquiátricas, defendendo que as entidades competentes devem “olhar para a saúde mental como uma verdadeira prioridade”.
“É necessário repensar o nosso modelo de urgência e de acesso aos cuidados de Saúde Mental”, defende Manuel Gonçalves-Pinho, médico e um dos autores do estudo.
Também Pedro Mota, do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, afirma que, apesar de as diminuições terem ocorrido “principalmente entre os doentes com situações clínicas consideradas não urgentes”, o impacto da covid-19 “na saúde mental dos portugueses já é bem notório”.
“Não só consequência direta da própria doença, mas também fruto das reformulações sociais e económicas que temos vindo a enfrentar”, salienta.
Os investigadores consideram que os idosos, os doentes com incapacidade intelectual e as pessoas em situação de desemprego são as de “maior vulnerabilidade”, alertando por isso, que a interrupção de determinados tratamentos em consequência do encerramento de alguns serviços “pode provocar maior destabilização em certos grupos de doentes”.
O estudo agora divulgado insere-se no projeto 1st.IndiQare, financiado pelo FEDER- Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, através do COMPETE2020 e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que conta com a colaboração do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa.
Em Portugal, morreram 1.725 pessoas das 50.613 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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