Este sábado, 16 de novembro, os coletes amarelos regressaram às ruas em protesto, por altura do primeiro aniversário do movimento. A polícia utilizou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes e pelo menos 33 pessoas foram detidas.
"O facto de continuarmos nas ruas é uma prova de que há graves problemas neste país", afirma o 'colete amarelo', enquanto percorre com passo decidido a capital francesa de norte a sul, junto a centenas de manifestantes.
Este movimento inédito, que colocou em xeque o governo de Macron há exatamente um ano, mostrou o profundo descontentamento das classes mais baixas em França pela perda do poder de compra, a subida dos impostos e a desigualdade social. Apesar disso, nos últimos meses os protestos perderam força.
"Claro que não é comparável às primeiras mobilizações, mas continuamos aqui", afirma, impetuoso, o homem de 45 anos que lidera a manifestação.
Dos 282 mil "coletes amarelos" que se mobilizaram a 17 de novembro de 2018, no primeiro dia de ação nacional, apenas poucos continuam, um "núcleo duro" que não está disposto a abandonar a luta.
Segundo Louis, "muitos deixaram de se manifestar quando o governo suspendeu a subida do preço dos combustíveis", um dos motivos do início das manifestações.
"Era uma reivindicação de muitos 'coletes amarelos', principalmente de zonas rurais e regiões afastadas de Paris", referiu.
Na mente de todos os franceses ficaram as imagens de assaltos e violência nos Champs-Elysées, uma das principais avenidas parisienses. E o governo queria evitar a todo custo que momentos assim se repetissem.
"Mas muitos deixaram de vir às manifestações por mede da repressão policial, por medo de perder um olho ou uma mão", reforça 'colete amarelo'.
No último ano, segundo um contagem feita pelos manifestantes, 23 pessoas perderam um olho após serem atingidos por balas de borracha e outros cinco tiveram as mãos amputadas na explosão de bombas de gás lacrimogéneo.
Segundo as autoridades, por volta de 2.500 manifestantes e 1.800 policias ficaram feridos e 11 pessoas morreram, principalmente em acidentes de trânsito durante os bloqueios das estradas, desde o início do movimento.
'Despertar cidadão'
Os últimos "coletes amarelos" esperam um novo impulso no primeiro aniversário da mobilização porque para muitas as causas que conduziram aos protestos há um ano não desapareceram.
Os manifestantes citam, por exemplo, a "desigualdade crescente", a "má distribuição da riqueza" e a "falta de conexão entre os políticos e o povo".
"As pessoas continuam descontentes. Os trabalhadores, os reformados, os jovens e famílias inteiras dizem ao governo 'Já chega!'", diz Inda Bigot, uma 'colete amarelo' de 42 anos.
"Nem Macron nem nenhum outro político vão conseguir fazer desaparecer este despertar cidadão. Agora só falta um detonador para que os que são conscientes de tantas injustiças saiam às ruas", diz a mãe de dois filhos, atualmente desempregada.
O movimento, cujo nome faz referência ao colete amarelo fluorescente obrigatório em todos os veículos de estrada em França, contempla também novas formas de mobilização para o segundo ano de protestos.
Até agora, o grupo que nasceu nas redes sociais manteve-se longe dos sindicatos, mas foi chamado para se unirem numa grande mobilização nacional, a 5 de janeiro de 2020, contra uma explosiva reforma da aposentadoria que está a ser preparada por Emmanuel Macron para a segunda metade do seu mandato.
Também se começa a sentir uma solidariedade para com outros movimentos que nascem além das fronteiras francesas. Nas últimas manifestações foram vistas bandeiras do Chile e do Líbano, países que vivem ondas de protestos.
"Os povos do mundo estão a despertar", diz Carlos López, um 'colete amarelo' chileno, exilado político em França, de 71 anos.
Segundo Laurent Jeanpierre, professor de Ciências Políticas da Universidade Paris-VIII, seria um erro declarar o fim dos "coletes amarelos" simplesmente por critérios numéricos.
"Não há dúvida de que houve uma perda de impulso em comparação com os protestos no ano passado. Mas os efeitos de um movimento ampliam-se além do momento da mobilização", disse em entrevista à AFP.
Segundo uma sondagem da empresa Odoxa, para 43% dos franceses o movimento dos "coletes amarelos" não terminou e poderia ser reativado "a qualquer momento".
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