A polícia de Paris disparou gás lacrimogéneo para afastar os manifestantes do movimento "coletes amarelos" que assinalam hoje o primeiro aniversário dos protestos, muitas vezes violentos, contra o presidente Emmanuel Mácron.
Elementos policiais retiraram manifestantes que tentavam bloquear uma passagem e dispararam repetidos jatos de gás lacrimogéneo contra grupos reunidos perto de Porte de Champerret, no noroeste, e da Place d'Italie, no sudeste da cidade.
O objetivo foi afastar "coletes amarelos" que tentam reavivar o seu movimento, no primeiro aniversário dos intensos protestos contra o presidente francês e as suas políticas. Os repórteres da Associated Press que cobriam as manifestações relataram não ter visto qualquer violência ou outra ação dos manifestantes para provocar este ataque da polícia.
No entanto, as imagens mostram carros destruídos, vidros partidos e estradas ocupadas e a polícia a utilizar gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes.
Pelo menos 33 pessoas já foram detidas, noticiou a Reuters.
Os protestos fazem parte de um conjunto de ações previstas para hoje em todo o país, nomeadamente nas estradas onde o movimento inicialmente se estabeleceu, em novembro de 2018, em protesto contra os planos do governo para aumentar os impostos sobre o combustível.
Alguns manifestantes em Paris usavam os coletes de alta visibilidade que os motoristas são obrigados a transportar nos carros, e que deram nome ao movimento. Outros manifestantes vestiam-se de negro, com os rostos protegidos por máscaras de gás.
Dezenas de polícias com equipamento de choque guardavam o Arco do Triunfo, com vista para a avenida dos Champs-Elysées, um cenário de tumultos semanais e repressão policial, no auge dos protestos do ano passado.
Corentin Pihel, 28 anos, disse que viajou de Montpellier para Paris para marcar o aniversário do movimento neste fim de semana. O manifestante contou que se juntou ao movimento dos "coletes amarelos" duas semanas depois do movimento ter começado, identificando-se com a sua missão.
Em torno da cidade sulista de Marselha, manifestantes vestidos de amarelo juntaram-se para lembrar o governo do seu descontentamento.
Os “coletes amarelos” assinalam hoje mais um dia de mobilização nacional com uma manifestação em Paris, na véspera do primeiro aniversário do início deste movimento nascido da contestação ao governo do presidente Emmanuel Macron.
O lusodescendente Jerome Rodrigues, uma das principais figuras do movimento dos “coletes amarelos”, disse à Lusa que “se vão passar muitas coisas em Paris” este fim de semana.
O dia de mobilização nacional é assinalado na véspera de se completar um ano de intensas e, na maior parte das vezes, violentas ações de protesto paralelamente às marchas dos “coletes amarelos” — quer em Paris quer noutras cidades francesas.
De concreto este fim de semana sabe-se apenas que milhares de “coletes amarelos” confirmaram a sua presença em Paris, através dos canais criados nas redes sociais.
Tal como os manifestantes, também as autoridades não desvendaram todas as medidas de segurança na cidade, publicando apenas que para além da interdição dos Campos Elísios, as manifestações estão proibidas também na Assembleia Nacional, no Hotel Matignon (residência do primeiro-ministro), na zona à volta da Torre Eiffel ou na Notre Dame. Várias estações de metro e de comboio estão fechadas.
Apesar de uma presença contínua todos os sábados na capital francesa, o movimento perdeu força, mas este fim de semana, quando se completa um ano desde a primeira manifestação, as redes sociais foram o canal usado para mais de seis mil pessoas confirmarem presença em diferentes manifestações, hoje e no domingo.
O movimento iniciou-se em Paris de forma espontânea em outubro de 2018, para contestar o aumento do preço dos combustíveis, o alto custo de vida e as desigualdades económicas.
Os protestos alargaram-se a outras cidades francesas (e até de outros países) juntando milhares de pessoas em sucessivas manifestações, que provocaram avultados estragos físicos.
Em julho, um relatório do Parlamento mencionava que os danos provocados durante as manifestações tiveram um custo económico direto que representa 0,1% da riqueza produzida pela França. O turismo foi considerado um dos setores mais prejudicados, ao registar perdas de cerca de 850 milhões de euros.
No seu pico, chegaram a aderir ao movimento 300 mil pessoas, escreve a Reuters.
O movimento dos coletes amarelos é uma das maiores dores de cabeça para o presidente francês Emmanuel Macron, obrigando-o mesmo a fazer concessões e adiar grandes reformas no sistema de pensões e de desemprego.
Uma sondagem publicada há duas semanas pela Odoxa mostrou que uma em cada duas pessoas pessoas acredita que o movimento pode ressurgir.
(Notícia atualizada às 13:28; artigo corrigido às 16:57)
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