O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou este sábado o envio de uma delegação a Doha, no Qatar, para continuar as negociações sobre a trégua com o Hamas em Gaza, que está em vigor desde 19 de janeiro e deve entrar numa segunda fase em março.

Está também prevista "uma reunião do gabinete de segurança" após o seu regresso dos Estados Unidos, disse o seu gabinete em comunicado.

Contudo, um membro do gabinete político do Hamas disse hoje que o cessar-fogo "está em perigo" e "pode colapsar".

Em declarações à agência France-Presse (AFP), Bassem Naïm acusou Israel de “procrastinação” na implementação da primeira fase do acordo de cessar-fogo, com uma duração de seis semanas.

"O que vemos em termos de atraso e falta de compromisso na implementação da primeira fase e a tentativa de criar um ambiente político, internacional, diplomático e mediático para pressionar os negociadores palestinianos a entrar na segunda fase, certamente coloca este acordo em risco, portanto pode ser interrompido e fracassar", disse ainda.

"Retomar a guerra certamente não é o nosso desejo nem a nossa decisão. Mas se uma das partes decidir regressar à guerra, o nosso povo palestiniano, que suportou por 15 meses e carrega a resistência nos seus corações, sem dúvida estará preparado para responder adequadamente", garantiu.

Como foi a troca de reféns no dia de hoje?

Na sequência da mais recente troca de reféns, o Hamas denunciou o que classificou como um “assassinato a conta-gotas” dos detidos palestinianos nas prisões israelitas, após a hospitalização de sete prisioneiros libertados.

As hospitalizações, incluindo a de Jamal al-Tawil, um dirigente político do Hamas na Cisjordânia, refletem “as agressões e os maus-tratos sistemáticos das autoridades prisionais israelitas contra os nossos prisioneiros, com um total desprezo pela sua idade ou pelos problemas de saúde que enfrentam”, escreveu o Hamas, denunciando uma “política de assassinato a conta-gotas dentro das prisões”.

Por outro lado, o Hamas libertou hoje três reféns israelitas. O Governo de Israel congratulou-se com a libertação, mas alertou para as imagens da operação, em que aparecem claramente subnutridos.

“As imagens chocantes a que assistimos hoje não ficarão sem resposta”, lê-se num comunicado do gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

Os três israelitas, Ohad Ben Ami, Eli Sharabi e Or Levy, pareciam muito magros e envelhecidos após mais de um ano de cativeiro em Gaza, quando foram levados para um palco por milicianos do Hamas antes de serem entregues ao Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Numa mensagem posterior, o gabinete do primeiro-ministro anunciou que Netanyahu ordenou “medidas proporcionais” à “situação dos três raptados e às repetidas violações do Hamas”.

O presidente israelita, Isaac Herzog, também comentou as imagens. “É este o aspeto de um crime contra a humanidade”, afirmou numa declaração, na qual encorajou todos a “olharem diretamente” para os três homens libertados.

No seguimento destas declarações e das imagens transmitidas, o Comité Internacional da Cruz Vermelha pediu hoje que as próximas trocas de prisioneiros detidos em Israel e de reféns mantidos em Gaza decorra de forma "digna e privada".

"O CICV está cada vez mais preocupado com as condições em que decorrem estas operações", indica um comunicado da Cruz Vermelha que lembra "a todas as partes, incluindo os mediadores, a responsabilidade que lhes cabe para que as próximas transferências decorram de forma digna e privada".

O que disseram os reféns libertados pelo Hamas após a libertação?

Os três homens, visivelmente debilitados, rodeados num palco por combatentes armados e encapuzados do Hamas, fizeram declarações antes de serem entregues à Cruz Vermelha.

"Peço ao Governo israelita que continue na via das negociações, peço-lhe que cumpra a segunda fase do acordo", disse Ohad Ben Ami, de acordo com imagens da televisão Al Jazeera do Qatar.

Eli Sharabi, quase irreconhecível em comparação com a fotografia divulgada pelo Fórum das Famílias, pediu ao Governo israelita para aplicar o acordo até à terceira fase e pôr fim à guerra na Faixa de Gaza.

O terceiro refém, Or Levy,  agradeceu ao braço armado do Hamas, as Brigadas al-Qasam, por ter tido comida e água durante os 16 meses de cativeiro e insistiu na continuação do pacto.

Dois dos reféns têm nacionalidade portuguesa. Como é que a libertação foi vista por cá? 

Or Levy, de 34 anos, e Eli Sharabi, de 52 anos, têm ligações a Portugal e ambos foram raptados a 7 de outubro de 2023, quando o Hamas atacou o sul de Israel e desencadeou uma ofensiva militar israelita na Faixa de Gaza.

Segundo a Comunidade Judaica do Porto, Sharabi pediu nacionalidade portuguesa e foi certificado por esta comunidade por pertencer a uma família sefardita, à semelhança de Levy.

Já a embaixada israelita em Lisboa confirmou que Michael, irmão do refém Or Levy, "veio a Portugal três vezes em delegações de famílias de reféns para contar a história de Or e pedir que se faça tudo para trazer o seu irmão de volta".

O presidente da Comunidade Israelita de Lisboa manifestou "grande felicidade" pela libertação de três reféns israelitas. "Este é mais um momento em que a esperança triunfou sobre o desespero e a angústia", afirma David Botelho, numa declaração enviada à agência Lusa.

"Sentimos grande felicidade pela libertação destas pessoas, independentemente da sua nacionalidade ou das ligações a este ou aquele país", expressou o líder da Comunidade Israelita de Lisboa, reconhecendo que "a libertação de um compatriota ou de alguém com ascendência nacional toca-nos sempre mais".

David Botelho acrescenta que o cessar-fogo tem sido acompanhado "de forma próxima e preocupada" pelos portugueses.

"Choramos os que perderam as suas vidas vítimas do terrorismo do Hamas, e pelas suas famílias, e continuamos a ter presente nas nossas orações todos os que ainda se mantém em cativeiro assim como os que têm vindo a ser libertados, para que possam retomar as suas vidas", refere.

Também o Governo este sábado "a libertação de mais três reféns israelitas, em especial dos dois que têm ligações a Portugal".

"O cumprimento do cessar-fogo - única base para a paz - exige um estrito respeito pelo direito humanitário e pelos direitos dos reféns libertados", referiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros na sua conta na rede social X.

*Com agências