Pell, que foi tesoureiro do Vaticano, foi acusado de abusos sexuais contra menores e passou mais de um ano detido. No mês passado, foi absolvido de todas as acusações pela Supremo Tribunal australiano e libertado da prisão.

O relatório da Royal Commission - comissão de investigação pública que ouviu milhares de testemunhas - foi concluído em 2017, mas havia muitas partes censuradas para não influenciar os julgamentos em curso e que agora foram publicadas.

A comissão determinou que, em 1973, quando era padre na diocese rural de Ballarat, no estado de Victoria, Pell já sabia que Gerald Ridsdale, um padre católico agora detido, levava meninos para passeios noturnos no campo.

"Naquele momento, já tinha conhecimento de abuso sexual contra menores", afirma o relatório.

"Também estamos convencidos de que, em 1973, o cardeal Pell não apenas estava ciente dos abusos sexuais a crianças por parte do clero, como também considerou medidas para evitar situações que provocassem rumores sobre o tema", completa o documento.

Os investigadores afirmam que "é provável que soubesse das transgressões sexuais de Ridsdale" em 1977, quando Pell participou numa reunião que debateu a transferência do padre para outra paróquia.

Pell, que em 1973 morou com Ridsdale e o apoiou no seu primeiro julgamento em 1993, afirma que não lembra de acusações contra ele quando estava em Ballarat.

Num comunicado, o cardeal declara que está "surpreso com algumas opiniões da Royal Commission", que segundo ele "não são baseadas em provas".

A comissão também determinou que Pell deveria ter tentado expulsar outro padre, Peter Searson, depois de receber uma lista de reclamações de uma delegação de professores em 1989, quando Pell era vice-arcebispo de Melbourne.

Searson foi objeto de várias queixas entre os anos 1970 e 1990, incluindo sobre abusos sexuais de meninos e pelo seu comportamento "desagradável, agressivo e violento", de acordo com a comissão.

Pell admitiu que a sua investigação poderia ter sido "um pouco mais agressiva" para recomendar medidas ao arcebispo, mas a comissão considera que ele deveria ter atuado contra Searson em 1989, tendo apenas vindo a fazer isso somente em 1997.

No seu comunicado desta quinta-feira, Pell alega que a delegação de professores "não mencionou agressões sexuais, nem pediu a saída de Searson".

Searson declarou-se culpado em 1997 de agredir fisicamente um menino, mas nunca foi acusado por abusos sexuais. Morreu em 2009.

Em 2012, quando foi anunciada a investigação da Royal Commission, Pell, então arcebispo de Sydney, disse que os abusos na Igreja Católica eram "exagerados".

A investigação ouviu mais de 4.000 supostas vítimas de abusos sexuais em instituições religiosas e concluiu que, em algumas dioceses, mais de 15% dos padres eram agressores.

Pell, de 78, passou mais de um ano na prisão após a condenação em dezembro de 2018 por abusos sexuais de dois acólitos na década de 1990, quando era arcebispo de Melbourne. O cardeal negou sempre as acusações e foi absolvido pelo Supremo Tribunal australiano, após um segundo processo de recurso.