Numa fase em que os títulos de campeão das principais ligas europeias estavam praticamente todos entregues — Bayern de Munique, na Alemanha, Real Madrid, em Espanha, Paris Saint-Germain, em França, Ajax, na Holanda, entre outros —, dois dos mais prestigiados campeonatos foram disputados até à última jornada.
Em primeiro lugar, a Premier League, descrita por muitos como a melhor e mais espetacular liga do mundo. O Manchester City procurava revalidar o título de campeão inglês, mas o Liverpool não se iria dar por vencido. Cedo se percebeu durante esta temporada que o cetro ia cair para um lado ou para o outro, e sem surpresas: afinal de contas, se os Citizens não foram campeões ininterruptamente entre 2018 e 2021 é porque os Reds impuseram-se em 2020.
O duelo entre a turma de Pep Guardiola e os pupilos de Jürgen Klopp conheceria hoje o seu fim, com o ascendente azul claro sobre o vermelho. Com um ponto de vantagem sobre os rivais, o Manchester City precisava de vencer ou, pelo menos, esperar que o Liverpool tropeçasse. Curiosamente, ambos começaram mal os seus jogos, iniciados à mesma hora.
No Etihad, nos subúrbios de Manchester, a equipa da casa esteve a perder até aos 69 minutos contra o Aston Villa — um dos golos marcados, curiosamente, por Philippe Coutinho, ex-jogador do Liverpool. No entanto, em seis minutos tudo mudou: Guardiola fez sair Bernardo Silva para entrar Gundogan, e o alemão foi decisivo, ao marcar aos 76 e 81 minutos, no primeiro a reduzir para 2-1 e no segundo já a dar a cambalhota no marcador (3-2), depois de Rodri também marcar, aos 78 (2-2).
A atuação de Gundogan fez recordar Sergio Aguero na época de 2011/12, quando o argentino marcou o derradeiro 3-2 contra o Queens Park Rangers e conseguiu o título para os Citizens na última jornada do campeonato — o primeiro desde 1968. Se nessa altura, quem viu os sonhos cair por terra foi o Manchester United, desta vez foram os vizinhos do Liverpool.
A equipa de Klopp, a jogar em Wolverhampton contra os Wolves, cedo tremeu com um golo do português Pedro Neto. No entanto, Mané igualou, Salah virou e Robertson avolumou. Mas o futuro estava selado.
Se os três portugueses do City — Bernardo Silva, João Cancelo e Ruben Dias — sorriram com o bicampeonato, Diogo Jota, pelos Reds, terminou o dia com dissabores. No entanto, nem tudo está perdido para o jogador de Massarelos: o Liverpool joga ainda a final da Liga dos Campeões a 28 de maio, podendo o clube somar o segundo troféu europeu desde que Klopp tomou o comando da equipa.
Os portugueses em Inglaterra, porém, não foram os únicos emigrantes a sorrir durante esta tarde. No sul da Europa, Rafael Leão abriria uma vez mais o livro — como tantas vezes fez esta temporada — para levar o AC Milan ao título de campeão de Itália, 11 anos depois da última conquista similar.
Foram dos seus pés que partiram as três assistências aos três golos que resultaram em (mais) três pontos, no estádio do Sassuolo — quanto, em abono da verdade, os rossoneri apenas precisavam de empate para garantir o ‘scudetto’. Ao fazê-lo, mantiveram o título de campeão em Milão, mas transferindo-o dos seus rivais do Inter, que acabaram em segundo lugar e aos quais de nada valeu o triunfo na receção à Sampdoria, também por 3-0.
Mas o papel fulcral em devolver o campeonato ao AC Milan não foi a única razão para Rafael Leão ter tido um dia para recordar. No final do jogo, a Liga italiana informou da decisão de atribuir-lhe o troféu de melhor jogador. Justo, para quem terminou a temporada com 11 golos e 10 assistências.
Obviamente que, já por terras portuguesas, houve também razões para festejar na língua de Camões: FC Porto e Tondela defrontaram-se na final da Taça de Portugal no registo estilo David contra Golias. O FC Porto, já campeão, procurava atingir a dobradinha e avolumar o seu museu; o Tondela, despromovido à segunda divisão, queria ultrapassar todas as adversidades e terminar a época com o seu troféu da “prova rainha”.
No entanto, a história do jogo contrariou a narrativa bíblica: foi mesmo Golias a sorrir no fim. No regresso da competição ao Estádio Nacional, o avançado iraniano Taremi ‘bisou’, com golos aos 22 minutos, de penálti, e aos 74, falhando ainda nova grande penalidade aos 66, com Vítor Ferreira a apontar o outro tento do FC Porto, aos 52, enquanto Neto Borges anotou o golo do Tondela, aos 73.
Com este troféu, os ‘dragões’ passam a somar mais uma Taça de Portugal do que o Sporting, mas estão ainda longe do recordista Benfica, com 26, num dia em que Sérgio Conceição se tornou no primeiro treinador do FC Porto a conseguir a ‘dobradinha’ por duas vezes, depois de em 2019/20 ter cometido idêntica proeza.
Todavia, não foi só a nação portista com razões para sorrir: a nona ‘dobradinha’ do FC Porto acabou por ‘puxar’ pelos minhotos Sporting Braga, Gil Vicente e Vitória de Guimarães para cima na Europa.
A vaga lusa na fase de grupos da Liga Europa, prevista para o vencedor do encontro do Jamor, vai passar para os ‘arsenalistas’, quarto classificados na I Liga, após os ‘azuis-e-brancos’ terem levantado o troféu da ’prova rainha’ pela 18.ª vez na sua história.
Os ‘dragões’ têm lugar garantido na fase de grupos da Liga dos Campeões, assim como o vice-campeão, Sporting, enquanto o terceiro posicionado, Benfica, vai disputar a terceira pré-eliminatória da ‘Champions’.
O Gil Vicente, quinto classificado no campeonato principal pela segunda vez na sua história, também terá direito a estreia europeia, passando da disputa da segunda pré-eliminatória da Liga Conferência Europa para a terceira ronda daquela fase, ao ocupar a vaga do ‘promovido’ Braga.
O Vitória de Guimarães (sexto), que falhara os cinco lugares de acesso às provas continentais, ver-se-á agora repescado para o lugar até aqui ocupado pelos ‘galos’, disputando a segunda pré-eliminatória da Liga Conferência Europa.
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