Enquanto o mundo corre atrás da vacina contra a Covid-19 — a grande panaceia para a pandemia que virou as nossas vidas do avesso — houve outra a marcar o dia em Portugal: a contra a gripe sazonal.
Teve hoje início a segunda fase da campanha de vacinação contra a Gripe, maleita que, apesar de ofuscada por uma pandemia que lhe retirou protagonismo, não só não deixou de ser perigosa, como ainda mais ameaçadora se tornou nestes tempos de incerteza. Recordemo-nos que, por partilhar os mesmos sintomas que a Covid-19, a Gripe pode provocar o entupimento de um Serviço Nacional de Saúde por si só já sob stress.
Por isso mesmo, a campanha, que habitualmente começa apenas a 15 de outubro, foi nestas circunstâncias extraordinárias adiantada para 28 de setembro. Nessa primeira fase, apenas foram visadas faixas da população consideradas prioritárias, como residentes em lares de idosos, grávidas e profissionais de saúde e do setor social que prestam cuidados. Hoje, o rol de eleitos a tomar a vacina passou a incluir também outros grupos de risco, como pessoas com 65 ou mais anos e pessoas com doenças crónicas.
Para lidar com o possível aumento da procura de vacinas contra a gripe, o Governo comprou este ano mais de dois milhões de doses, tendo disponibilizado 350 mil numa primeira fase que, segundo referiu a diretora-geral da Saúde na passada sexta-feira, correu bem.
No entanto, esta segunda parece ter tido início com alguns percalços. Tendo já existido queixas prévias por parte de algumas farmácias quanto à falta de stock por comparação àquele existente nos centros de saúde, hoje foram noticiados casos de pessoas, de Lisboa a Vila Real, que não puderam ser vacinadas em farmácias, mesmo quando já tinham agendado a sua administração.
As denúncias mereceram uma resposta oficial da parte do Governo, pela boca de António Lacerda Sales. Durante a conferência de imprensa para fazer um ponto de situação quanto à pandemia, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde lembrou que foi celebrado um acordo acordo com as associações de farmácia e de distribuidores, mas que não é suposto as vacinas serem todas enviadas de uma vez.
“A prática habitual na disponibilização é feita em tranches, de forma gradual", ou seja, "não é feita de forma abrupta" e "não se pretende vacinar toda a gente ao mesmo tempo, como é óbvio, até para evitar grandes concentrações”, frisou o governante, que fez um “apelo à serenidade e tranquilidade”, dando certezas de que “toda a gente vai ser vacinada”.
Mas se nem todos os integrantes dos grupos de risco puderam receber hoje a vacina, houve quem quis dar o exemplo para o país e recebeu a sua dose para combater a gripe. Cumprindo a sua agenda oficial, Marcelo Rebelo de Sousa tomou a vacina — fazendo-se acompanhar da ministra da Saúde, Marta Temido — e o ato até foi marcado por tê-lo feito de tronco nu, mesmo perante as objetivas das câmaras.
"Aqui fica o meu exemplo. Espero que aqueles poucos que não tivessem já a intenção de o fazer venham o mais rápido que possam, de acordo com as suas disponibilidades e as disponibilidades do sistema, vacinar-se até ao fim da primeira semana de dezembro", disse Marcelo aos jornalistas na sala de espera desta Unidade de Saúde Familiar Descobertas, em Lisboa.
No entanto, sabendo que a procura pode exceder a oferta neste momento, também o Presidente da República apelou à calma dos portugueses interessados em tomar a vacina, dizendo que "haverá vacinas em número suficiente para todos aqueles que queiram vacinar-se, e estarão disponíveis em tempo útil".
Pedir paciência à população portuguesa quanto à sua saúde nesta fase de incerteza e à medida que os casos de Covid-19 continuam a aumentar — Portugal ultrapassou hoje as 100 mil infeções — é ingrato, mas é por esta bitola que os governantes decidiram alinhar. Em dezembro será altura de avaliar se todos os portugueses que querem a vacina para a gripe tê-la-ão. Até lá, é aguardar.
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