“A ofensiva militar em curso dentro e em volta da cidade de Hodeida e no seu porto intensificou-se nos últimos dias, com civis apanhados no meio do fogo cruzado, que são quem, definitivamente, paga o preço do conflito”, declarou uma porta-voz de Federica Mogherini, em comunicado.

A chefe da diplomacia europeia recordou que, tal como em ocasiões anteriores, a infraestrutura civil foi alvo de todas as partes no conflito, “o que representa um incumprimento da lei humanitária internacional”.

De acordo com a responsável, cortar o acesso àquela cidade iemenita “empurrará ainda mais os iemenitas para o limiar da fome”, já que o abastecimento de produtos de primeira necessidade foi interrompido.

O hospital de Al-Zaura, o principal da cidade de Hodeida, foi encerrado e os seus doentes fugiram, devido à proximidade dos combates no âmbito da ofensiva lançada pelas forças governamentais iemenitas contra os rebeldes xiitas Huthis, que controlam a cidade.

A porta-voz indicou que no Iémen há 22 milhões de pessoas que precisam de ajuda e que 14 milhões “podem ver-se em breve em condições de pré-fome”, de uma população total de 29 milhões.

“É imperativo que produtos básicos como gasolina, comida e medicamentos cheguem às populações afetadas, independentemente das áreas em que estas residam”, sublinhou.

Mogherini reiterou que a União Europeia (UE) “apoia completamente” o processo liderado pela ONU no país, bem como o reatamento “imediato” das negociações políticas, e apelou mais uma vez a todas as partes no conflito para se empenharem em alcançar “um acordo político duradouro e sustentável”.

As forças governamentais relançaram nos últimos dias a sua ofensiva sobre Hodeida, que tinha sido suspensa em junho para dar uma oportunidade a umas consultas de paz entre as partes beligerantes com mediação da ONU, que acabaram por não se realizar.

Pelo menos 1.745 combatentes rebeldes xiitas Huthis morreram na ofensiva das forças governamentais à cidade portuária de Hodeida, assegurou hoje a coligação militar liderada pela Arábia Saudita, que as apoia.

O porta-voz da coligação, Turki al-Malki, disse numa conferência de imprensa em Riade que foram tomadas 466 posições aos Huthis desde que a ofensiva foi relançada pelas forças governamentais e respetivos aliados, há 12 dias.

Al-Malki acusou os rebeldes de cometerem “violações” em Hodeida, onde destruíram pontes e estradas para impedir a passagem de ajuda humanitária e usam os civis como “escudos humanos”, e negou que a coligação e o exército iemenita tencionem declarar um cessar-fogo, defendendo que é necessário “pressionar” os Huthis para que regressem à mesa das negociações.

Sobre a demissão, no domingo, do ministro da Informação do Governo dos Huthis, Abdelsalam Yaber, o porta-voz da coligação árabe disse que ela “revela o desequilíbrio interno nas milícias” e instou os seus membros “honrados” a afastarem-se do grupo, que controla zonas do norte e oeste do Iémen, incluindo a capital, Sanaa.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para as “consequências catastróficas” de uma eventual destruição do porto de Hodeida, ponto de entrada de mais de três quartos das importações e da ajuda humanitária internacional, num país ameaçado pela fome.

Por sua vez, o chefe da diplomacia norte-americano, Mike Pompeo, e os seus homólogos britânico, Jeremy Hunt, e francês, Jean-Yves Le Drian, sublinharam que chegou a altura de as partes no conflito negociarem.

Num encontro no domingo com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, também ministro da Defesa, Pompeo apelou explicitamente para “o fim das hostilidades”, pedindo que “todas as partes se sentem à mesa para negociar uma solução pacífica para o conflito”.

Depois de se referir ao custo humano “incalculável” do conflito iemenita, o ministro britânico, que foi recebido pelo rei da Arábia Saudita, declarou-se favorável a uma “nova ação” do Conselho de Segurança para apoiar os esforços do mediador da ONU no Iémen, Martin Griffiths, que está a tentar organizar uma nova ronda de negociações “até ao fim deste ano”.

“É preciso que a comunidade internacional diga que já chega”, declarou, por seu turno, o ministro francês, acrescentando: “Não haverá vencedores nesta guerra. Por isso, é preciso pôr fim aos seus custos”.

Desde 2015, os combates fizeram cerca de 10.000 mortos no país, na maioria civis, e mais de 56.000 feridos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mas responsáveis humanitários estimam que o balanço real do número de vítimas é bastante mais elevado.

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