À Lusa chegaram relatos de um doente de 88 anos transportado pela Emergência Médica que esteve cinco horas abandonado numa maca e de uma bebé de 15 meses que foi levada três vezes à urgência com esperas de sete horas, até acabar por ficar internada.
Contactada pela Lusa, a administração da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste referiu o reduzido número de reclamações “formais”, ou seja por escrito, e nas estatísticas apontando que “80% dos doentes permanecem na Urgência por um período inferior a quatro horas”.
Eduardo Bruno foge ao padrão depois de ter esperado na noite de terça-feira “sete horas” com a filha de 15 meses e ter regressado duas vezes no dia seguinte, até que acabou por fazer queixa no Livro de Reclamações.
Segundo contou à Lusa, a bebé estava com vómitos e diarreias e, depois de ter esperado “três horas”, foi observada por “um médico geral” na Urgência. Esperaram mais “quatro horas encostados a um canto” até serem mandados para caso com o diagnóstico: “não tem nada”.
Bruno e a mulher Ana Patrícia regressaram na manhã seguinte com a filha à urgência e foram mandados para casa com um antibiótico para uma otite, segundo contaram.
A bebé continuava com vómitos, diarreia e febre e à noite recorreram à urgência, onde foi vista por uma pediatra, depois de o pai reclamar a presença da especialista e fazer queixa no Livro de Reclamações.
A criança ficou internada e teve alta na manhã seguinte medicada para uma gastrenterite viral.
Já em maio, alegam ter passado por uma situação semelhante, em que “só à quarta ida à urgência” lhe foi diagnosticada também uma gastrenterite.
“Já estava desidratada”, relatou o pai.
O pai de Maria Bárbara Martins e Manuel Rodrigo, antigo presidente da Câmara de Miranda do Douro, foi transportado pelo INEM para Bragança na mesma data, terça-feira, tendo entrado na urgência às 17:59.
Os filhos do doente com 88 anos e várias complicações de saúde contaram à Lusa que a maca e a ambulância do INEM só foram libertadas às 21:00 por falta de disponibilidade do hospital.
“O meu pai ficou no corredor e nada de olharem para ele. Só começaram a fazer análises perto das onze da noite e só depois das duas da manhã é que avisaram a família que podia ir embora”, relatou Maria Bárbara.
Os dois irmãos chegaram a Miranda do Douro por volta das três da manhã.
Ambos têm a experiência de várias deslocações com o pai à urgência de Bragança e garantem que “o movimento existente não justificava impedimento de um atendimento normal”.
“Nós sabemos que não é possível ser atendido de imediato, mas o que eu reparei é que não havia interesse na situação desta vez, ninguém olhava para ninguém”, afirmou a filha, realçando que “nem para os doentes, nem prestavam qualquer informação aos familiares”.
Enquanto esperava, Maria Bárbara apercebeu-se de outras situações e desabafos idênticos e presenciou “o desespero de uma mãe a implorar a alguém que lhe vissem a filha” (uma criança).
“Estava toda a gente a dizer que ultimamente é um descalabro”, contou.
O pai é diabético e “ninguém fez caso, esteve sem comer todo o tempo” e “alagado” em urina até os filhos irem embora e ter ficado internado.
“Ficaram com o contacto, mas no dia seguinte ninguém não disse nada. Tentei ligar para o hospital e ninguém atendeu, decidimos ir a Bragança e deram-lhe alta, mas ninguém nos avisava”, continuou, concretizando que chegaram às quatro da tarde ao hospital e já passava das nove quando puderam regressar a casa.
Maria Bárbara pergunta se o pai estivesse ali sozinho como é que era?
“Não foi só com o meu pai, achei que este abandono aconteceu no geral. É desumano”, desabafou.
Esta mulher sugere aos decisores que “devem de volta e meia sentar-se ali, sem se saber quem são, e verem o que se está a passar”.
A Lusa pediu para falar com a administração da ULS do Nordeste e dados comparativos sobre o número de queixas no Livro de Reclamações, o que não foi facultado.
Os administradores decidiram responder por escrito indicando que desde o início de 2016 “até à data foram efetuados no Serviço de Urgência da Unidade Hospitalar de Bragança 37.189 atendimentos, com um valor de exposições formais de utentes na ordem dos 0,1%”.
Enfatizaram também que “o tempo médio de permanência neste serviço se situa nas três horas e meia” e que a taxa de doentes que regressam nas 24 horas seguintes corresponde a “0,6%”.
A ULS do Nordeste invoca ainda “o valor mais elevado (87%) de cumprimento” na área da Administração Regional de Saúde do Norte” dos tempos de espera protocolados.
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