De acordo com Pedro Matos Soares, autor do “Roteiro Nacional para a Adaptação 2100”, e físico da atmosfera do Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), citado pelo jornal Expresso, a partir de 2071 os modelos físico-matemáticos projetam que, “em vez de 1-2 ondas de calor por ano no litoral e 3-4 no interior, tenhamos entre 3-5 e 5-7, dependendo da área geográfica, e 10 a 12 no interior, sobretudo no Sudeste, podendo estender-se por 60 dias por ano”.
E como será num futuro mais próximo?
Após três anos do padrão climático da 'irmã', El Niño está de volta. De temperaturas mais frias, globalmente falando, passaremos a ter um fenómeno climático mais quente. Mas não desespere, pelo menos para já, dado que as profundas alterações climáticas são esperadas apenas no final do presente ano. Mas o pior estará mesmo para vir a partir de 2024.
De acordo com especialistas ouvidos pelo SAPO24 as temperaturas nos próximos anos terão a tendência de uma subida na ordem dos 1,5ºC.
“Será bastante comum que todo os anos afetados pelo El Niño possam bater recordes de temperatura. A média será uma subida de 1,5 graus por cada ano sempre que se regista este fenómeno, por isso é natural que se quebrem recordes quando tal acontece", disse Jack Beckwith.
Qual a temperatura mais alta registada em Portugal e onde poderemos chegar?
A temperatura mais elevada até agora foram os 47°C registados no dia 14 de julho de 2022, na estação do Pinhão, na região do Douro, e no futuro podem chegar a 51°C, segundo os modelos que cruzam os cenários atualizados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) com os dados históricos nacionais.
Sabe-se ainda que o aumento de temperatura média nacional pode subir mais 3 a 4°C a meio do século, ou mesmo mais 6,5°C no nordeste do país entre 2071 e 2100, o que está bem acima do teto médio global de 1,5°C, essencial para travar as piores consequências.
E o que será necessário fazer para evitar tanto calor?
Para o investigador Pedro Matos Soares é necessário evitar estes cenários e para isso “é preciso cumprir o Acordo de Paris”, ou seja, os cortes globais para metade de emissões de gases de efeito de estufa (GEE) até 2030 e chegar a emissões neutras em 2050, sendo que, neste momento, os cálculos apontam para que o número de dias com temperaturas acima de 25°C e de 35°C venham a estender-se por 120 e por 95 dias, respetivamente.
Pelo mesmo diapasão afina Beckwith.
"O Acordo de Paris [em 2015] estabeleceu que a meta principal seria manter as temperaturas médias abaixo dos 2ºC e mesmo dos 1,5ºC. O cenário tem sido esse, é verdade, mas também porque desde então tivemos apenas três ou quatro anos mais quentes, com El Niño. Os próximos serão um teste a esse acordo, veremos, mas tenho receios, vejo as coisas escritas e não em formato ativo. É preciso acelerar as ações", referiu, dando exemplos do que se tem de fazer no imediato.
"Há muitos exemplos, como acelerar a eliminação do carvão, proteger e restaurar os ecossistemas, incentivar as energias renováveis. Tudo isto está nos acordos, mas é preciso fazer, é preciso avançar", concluiu.
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