"Esta não é uma doença com a qual a população em geral deva estar preocupada, não é como a covid-19 ou outras doenças que se espalham rapidamente", afirmou a diretora do departamento de Preparação para Emergências da OMS, Sylvie Briand, perante os países membros da organização reunidos na Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra.
A responsável admitiu que se trata de "uma situação invulgar", com contágios fora dos nove países africanos onde o vírus da família da varíola é endémico, e que "o número pode aumentar nos próximos dias, porque se está mesmo no princípio deste evento".
Para já, não há certezas sobre o que poderá estar a causar o surto: as hipóteses em estudo são uma mudança no vírus, o que parece improvável pelas análises de pessoas infetadas já feitas, ou uma mudança nos comportamentos humanos, que é mais provável mas ainda está por estabelecer, referiu Sylvie Briand.
Assumindo "a incerteza sobre o futuro da doença", afirmou esperar que o surto seja "auto-contido", como acontece nos países onde o vírus é endémico, indicando que se desconhece a extensão real do contágio, uma vez que os métodos de vigilância são diferentes.
"Geralmente, não temos casos ou há casos muito esporádicos exportados para países não-endémicos, mas estão a aparecer cada vez mais casos", salientou.
O diretor de Emergências Sanitárias da OMS, Mike Ryan, afirmou que a progressão do surto "ainda pode ser evitada nos países não endémicos" através de testagem, rastreio de contactos e isolamento de pessoas infetadas.
Rejeitou a necessidade de "campanhas de imunização em massa" nos países africanos onde o vírus é endémico, por causa das circunstâncias em que o contágio pode ocorrer, e defendeu que o que é necessário são "campanhas de vacinação dirigidas e aplicações dirigidas de terapias".
"Cada país poderá precisar de uma pequena quantidade de vacinas", salientou, afirmando que a OMS promoverá o intercâmbio de vacinas para que todos os países que delas necessitem tenham acesso.
A OMS já tem protocolos de tratamento para o vírus Monkeypox, quer de vacinas quer de medicamentos antivirais. A vacina da varíola tem uma taxa de eficácia de 85 por cento na prevenção deste vírus da mesma família.
O contágio implica "contacto próximo" com uma pessoa afetada, nomeadamente contacto face a face ou pele com pele, e o vírus também se consegue transmitir através de contacto com objetos em que esteja presente.
Os sintomas duram entre duas e quatro semanas, começam com febre, dores de cabeça, dores nas costas, fadiga e progridem para inchaço nos nódulos linfáticos e irritação cutânea.
As manifestações da doença podem ser mais graves em crianças, grávidas ou pessoas com deficiências imunitárias, com uma taxa de mortalidade entre os 03% e os 06%.
O número de infeções confirmadas pelo vírus Monkeypox em Portugal era de 58 na quinta-feira, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), que está a estudar a eventual necessidade de vacinar contactos de casos e profissionais de saúde.
A doença, que tem o nome do vírus, foi identificada pela primeira vez em humanos em 1970 na República Democrática do Congo, depois de o vírus ter sido detetado em 1958 no seguimento de dois surtos de uma doença semelhante à varíola que ocorreram em colónias de macacos mantidos em cativeiro para investigação - daí o nome "Monkeypox" ("monkey" significa macaco e "pox" varíola).
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