A notícia, avançada pelo Correio da Manhã, divulga também excertos da carta enviada por Ventura ao Papa Francisco. No Centro Cultural de Belém, o Papa Francisco falou do drama dos refugiados, apontou o dedo à Europa por ser incapaz de encontrar caminhos para a paz na Ucrânia, tocou nos temas quentes da eutanásia e do aborto, falou da crise climática e ainda alertou para as dificuldades vividas pelos jovens de hoje, incluindo o aumento do custo de vida e a dificuldade em encontrar casa e constituir família.

André Ventura afirma: "Confesso que podia ter estado no CCB com Sua Santidade e não desejei esse encontro. Peço a Deus que me perdoe por isso e tenho tido todas as dificuldades com a minha própria consciência. Mas tomei a decisão em consciência e assumo-a”.

A carta divide-se ainda entre elogios e críticas ao pontificado de Francisco. No segundo, Ventura lamenta que o Papa receba no Vaticano líderes “que são ditadores e assassinos”, enquanto recusa “a entrada a outros porque são conservadores ou porque alguma opinião pública lhes chama de extrema-direita”.

“Proclamamos por justiça mas depois assistimos ao branqueamento expresso de líderes inegavelmente corruptos, como aconteceu com as palavras de Sua Santidade a propósito de Lula da Silva e Dilma Rousseff, ‘ex’ e atual presidente brasileiro. Na minha humilde opinião, isto não dignifica a Igreja”, diz ainda o líder do Chega.

Sobre o tema das migrações, Ventura considera que o Papa Francisco quer que a Igreja fique “bem na fotografia” e ignora parte do problema. “O tema das migrações é paradigmático: a Igreja, qual partido político de esquerda, quer ficar bem na fotografia e opta por entrar diretamente no debate, ignorando (ou não) que é precisamente devido à imigração ilegal ou descontrolada que florescem partidos ou movimentos, esses sim, manifestamente xenófobos e racistas, ao arrepio da nossa melhor tradição humanista”, escreve Ventura. “Poderemos advogar a chegada sem controlo de pessoas à União Europeia com tantos problemas internos para resolver?”

“Poderemos ignorar o caldo de conflito que estamos a criar na União Europeia para ficar bem na fotografia? É esse o papel da Igreja Católica no século XXI? E do Papa?”, questiona ainda o líder do Chega. “Temos de ter cuidado em não ignorar, nem passar ao lado, da luta de civilizações e de filosofias em que estamos envolvidos.”