O vírus da gripe circula “há milhares de anos na população humana”, enquanto o novo coronavírus – Covid-19 – só surgiu nos seres humanos há poucos meses, estando ainda num processo de adaptação ao homem.
“Para a quase totalidade dos seres humanos e para o seu sistema imunitário este vírus é totalmente desconhecido. Embora todas as doenças infecciosas tenham uma componente de incerteza, as diferenças entre a gripe e o novo coronavírus resultam da comparação entre o conhecido e o expectável, do lado da gripe, com o desconhecido e o imprevisível do Covid-19”, disse Filipe Froes à agência Lusa, admitindo que esta é uma das questões que lhe tem sido muitas vezes colocadas no último mês.
As diferenças entre conhecimento e desconhecimento têm um grande impacto nas questões essenciais: na epidemiologia (Quem, Quando e Como), no tratamento e na prevenção.
“Para a gripe sabemos quem é mais afetado e quem tem maior risco de desenvolver formas graves de doença, quando ocorre a doença e quando e como se transmite. Sabemos o período de incubação e o período de contágio”, lembra Filipe Froes, que é pneumologista e intensivista no hospital Pulido Valente.
Para o novo coronavírus, a informação sobre a severidade e formas de transmissão é “muito preliminar”, “limitada a pequenos subgrupos” ou então inexistente.
Também em relação ao tratamento e prevenção as diferenças entre gripe e o Covid-19 “são totais”.
“Em Portugal estão disponíveis dois fármacos específicos para a gripe (oseltamivir e zanamivir). E todos os anos são produzidas, a nível mundial, várias centenas de milhões de diferentes tipos de vacinas contra a gripe com os padrões de eficácia e segurança exigidos pelas autoridades regulamentares. Para o novo coronavírus serão necessários muitos meses ou anos até haver vacinas e fármacos com eficácia e segurança validada e em quantidade para suprir as necessidades à escala global”, explica o coordenador do gabinete de crise da Ordem do Médicos e membro da ‘task force’ da Direção-geral da Saúde para a infeção pelo novo vírus.
Perante a imprevisibilidade do novo surto ou epidemia, Filipe Froes avisa que é essencial manter um estado de “atenção, precaução e preparação”.
O perito lembra ainda que este tipo de situações são “recorrentes e representam um desafio perpétuo para a Humanidade”, até porque se trata do terceiro surto com coronavírus só nos últimos vinte anos.
“Temos de saber aprender e crescer com estas situações. Eu não sei como é que este terceiro surto vai acabar, mas uma coisa é certa: espero estar mais bem preparado para o próximo. Seja o quarto de coronavírus ou de outro microrganismo”, refere.
O surto do novo coronavírus que foi detetado na China já infetou mais de 45 mil pessoas e provocou a morte a mais de 1.100, mas só um dos óbitos ocorreu fora de território chinês.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) atribuiu na terça-feira o nome Covid-19 à doença provocada pelo novo coronavírus.
Estas são as principais recomendações das autoridades de saúde à população
O surto do novo coronavírus detetado na China tem levado as autoridades de saúde a fazer recomendações genéricas à população para reduzir o risco de exposição e de transmissão da doença. Eis algumas das principais recomendações à população pela Organização Mundial da Saúde e pela Direção-geral da Saúde portuguesa:
- Lavagem frequente das mãos com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;
- Ao tossir ou espirrar, fazê-lo não para as mãos, mas para o cotovelo ou para um lenço descartável que deve ser deitado fora de imediato;
- Evitar contacto próximo com quem tem febre ou tosse;
- Evitar contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;
- Deve ser evitado o consumo de produtos de animais crus, sobretudo carne e ovos;
- Em Portugal, caso apresente sintomas de doença respiratória e tenha viajado de uma área afetada pelo novo coronavírus, as autoridades aconselham a que contacte a Saúde 24 (808 24 24 24). Caso se dirija a uma unidade de saúde deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.
Combater a desinformação
A Organização Mundial da Saúde tem tentado também divulgar factos para combater a desinformação e mitos ligados ao novo coronavírus. Eis algumas dessas informações:
- É seguro receber cartas ou encomendas vindas da China, porque as análises feitas demonstram que o coronavírus não sobrevive muito tempo em objetos como envelopes ou pacotes;
- Não há qualquer indicação de que animais de estimação, como cães e gatos, possam ser infetados ou portadores do novo coronavírus. Mas deve lavar-se sempre as mãos após contacto direto com animais domésticos, porque protege contra outro tipo de doenças ou bactérias;
- Não há também prova científica de que o consumo de alho ajude a proteger contra o novo coronavírus;
- Usar e colocar óleo de sésamo não mata o novo coronavírus;
- As atuais vacinas disponíveis no mercado contra a pneumonia não previnem contra o coronavírus 2019-nCoV. Este novo vírus precisa de uma nova vacina que ainda não foi desenvolvida;
- Os antibióticos não servem para proteger ou tratar as infeções provocadas pelo coronavírus. Os antibióticos são usados para infeções bacterianas e não virais. Contudo, os doentes hospitalizados infetados com coronavírus poderão ter de receber antibióticos porque pode estar presente também uma infeção bacteriana;
- Pessoas de todas as idades podem ser afetadas pelo coronavírus. Contudo, pessoas mais velhas ou com doenças crónicas (como asma ou diabetes) parecem ser mais vulneráveis a ter doença grave quando infetadas.
Comentários