Viticultores do Douro vão manifestar-se e entregar hoje um manifesto ao Presidente da República para alertar para a crise instalada na região demarcada e pedir a “intervenção urgentíssima” de Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado reúne-se com viticultores esta tarde, em São João da Pesqueira, distrito de Viseu, antes de inaugurar a edição 2024 da Vindouro, Wine & History, Festa Pombalina, certame ligado ao vinho e à história da região que se prolonga até domingo.
Depois de saírem à rua em manifestações e de promoverem a petição “Salvem os viticultores do Douro”, os produtores vão, agora, apelar “à sensibilidade” e intervenção do Presidente da República e exigir soluções para a viticultura duriense.
“Para que seja mais um porta-voz da reivindicação que os viticultores têm”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de São João da Pesqueira, Manuel Cordeiro, lembrando que Marcelo Rebelo de Sousa não tem poderes executivos.
Também hoje, em São João da Pesqueira, os agricultores durienses vão manifestar-se para chamar a atenção para a crise instalada na região.
“Este ano, de facto, a região bateu no fundo (…). Chegámos ao extremo de termos viticultores, termos famílias inteiras, que não têm sequer onde entregar as uvas e podemos imaginar o desespero que isso causa numa família”, afirmou Manuel Cordeiro, que foi eleito pelo movimento independente Pela Nossa Terra (PNT).
Invocando quebras nas vendas e ‘stocks’ cheios, operadores não estão a comprar uvas ou estão a comprar em menos quantidade.
No entanto, segundo o autarca, os agricultores têm também vindo a receber cada vez menos pelas suas uvas, enquanto os custos de produção são cada vez maiores.
Em dois anos, verificou-se ainda uma quebra de 26.000 pipas (550 litros cada) para as 90.000 pipas no benefício, ou seja, na quantidade de mosto que cada produtor pode destinar à produção de vinho do Porto, uma das principais fontes de receita dos viticultores durienses.
No manifesto, a que Lusa teve acesso, os viticultores pedem que o Governo “aja de uma vez por todas” e reclamam soluções para resolver a crise instalada na região como a proibição total de entrada de vinhos de fora da região, a fiscalização efetiva do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) e um apoio urgente e direto já para esta campanha ao viticultor que não consiga escoar as suas uvas.
Reivindicam ainda a descativação das receitas das taxas pagas ao IVDP, o reforço imediato do valor previsto para a destilação de crise, visando um aumento da eficácia da medida, a aplicação da taxa turística aos barcos cruzeiro e a utilização obrigatória, na campanha de 2025, de aguardente da região na produção de vinho do Porto.
A reativação da nova Casa do Douro (associação pública de inscrição obrigatória) como “voz da produção” e uma “reformulação profunda” de todo o quadro legal e institucional da região são também consideradas “absolutas prioridades” para este território.
Neste documento, os subscritores revelam que a “paciência e a resiliência” se esgotaram, lamentam o “desinteresse reiterado” da tutela, a “triste e generalizada falta de empatia com a região”, a legislação “permeá vel e obsoleta” e alertam para um “IVDP inoperacional”.
Manuel Cordeiro reconheceu, no entanto, que já foram dados passos pelo atual ministro da Agricultura, nomeadamente em medidas como a destilação de crise, a proibição da entrada a granel na Região Demarcada do Douro de uvas, mostos, vinhos e outros produtos vínicos ou afins não abrangidos pelo estatuto das Denominações de Origem Protegidas (DOP) e Indicação Geográfica Protegida (IGP) e na marcação de eleições para a Casa do Douro, a 19 de dezembro.
Realçou ainda que as dificuldades sentidas pelos viticultores neste concelho, onde a vinha e o vinho são a principal atividade económica, são o assunto que mais o preocupa atualmente.
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