O 'não' ganhou na Colômbia, este domingo, no referendo ao acordo de paz realizado entre o Governo e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o qual procurava pôr um fim a 52 anos de guerra no país. Contrariando a maioria das sondagens, o 'não' venceu, ainda que por uma escassa margem de cerca de 50 mil votos.
Numa altura em que 99,08% dos votos já foram apurados,o 'não' lidera com 50,24% contra o 'sim' com 49,75%. A taxa de abstenção, segundo o El País, foi superior a 60%.
Cerca de 34,9 milhões de colombianos foram chamados a participar no referendo e pronunciar-se sobre o pacto assinado no dia 26 de setembro entre as FARC e o Governo de Juan Manuel Santos que poria fim a um conflito com mais de 50 anos. Destes, apenas 13 milhões foram efectivamente às urnas expressar a sua vontade, tendo o resultado evidenciado uma repartição muito próxima dos votos, mas com vantagem para os defensores do 'não'.
Embora pelo menos 6.346.055 pessoas tenham votado no 'sim', superando o mínimo de 4,5 milhões de votos exigidos para se aprovar o acordo, 6.408.350 colombianos disseram 'não'. Na sede da campanha pelo 'sim', no emblemático hotel Tequendama, no centro de Bogotá, o clima era de luto.
Depois de reconhecer a derrota, o presidente Juan Manuel Santos garantiu que continuará a tentar superar mais de meio século de guerra com a guerrilha marxista. "Não me renderei e continuarei a procurar a paz até ao último dia do meu mandato, porque esse é o caminho para deixar um país melhor para os nossos filhos", declarou Santos, numa comunicação transmitida na televisão nacional. As FARC também já se pronunciaram e disseram que "lamentam profundamente que o poder destrutivo dos que semeiam ódio e rancor tenha influenciado a opinião da população colombiana", segundo afirmou Timoleón Jiménez.
A campanha pela recusa do acordo de paz teve como principal rosto o ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, e o partido a que pertence, o Centro Democrático. O 'sim', ao invés, contava com um apoio alargado de várias forças da sociedade, quer na esfera empresarial, quer na cultura e no desporto, Também a comunidade internacional, incluindo o Papa Francisco, tinham se pronunciado pelo sim ao acordo de paz, um texto de 297 páginas que procurava mudar "balas por votos", promovendo o desarmamento da guerrilha e a sua transição para a vida política legal.
Momentos depois do anúncio da vitória do 'não', o Exército de Libertação Nacional (ELN) defendeu, na sua conta no Twitter, que "apesar dos resultados" é preciso "continuar a lutar pela paz". "Convocamos a sociedade colombiana a continuar a procurar uma saída negociada para o conflito armado", tuitou o ELN. "Apesar dos resultados adversos para os acordos de Havana, os colombianos devem continuar a lutar pela paz com transformações", acrescentou o grupo rebelde, que estava nas conversas iniciais para percorrer o mesmo caminho das FARC na negociação com o governo Santos.
O governo já tinha dito não ter um plano B em caso de derrota no referendo. A pergunta feita aos eleitores era simples: "Apoia o acordo final para o fim do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura?". As últimas sondagens apontavam a vitória do 'sim', com 20% de vantagem.
O ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) teve um papel fundamental na vitória do 'não'. "A paz é ilusória. Os textos de Havana são decepcionantes", criticou o senador e ex-presidente. "Não entreguemos a Colômbia", repetiu Uribe, para quem o acordo concede impunidade aos rebeldes e encaminha o país para o "castrochavismo" de Cuba e da Venezuela.
"Ódio venceu"
"O ódio venceu, venceu o ódio contra as FARC", disse à AFP o diretor do centro de análise Cerac, Jorge Restrepo. "Ficámos mergulhados numa profunda crise política e com consequências económicas muito negativas", acrescentou. Agora, são as FARC que "vão decidir se continuam com o desarmamento, com a reintegração e com o cessar-fogo bilateral", disse Restrepo, referindo-se ao processo iniciado sob a supervisão das Nações Unidas, no cumprimento do estabelecido no âmbito do acordo já selado.
A violência entre guerrilhas, paramilitares e agentes do Estado deixa um balanço de 260 mil mortos e 6,9 milhões de deslocados."Ninguém estava preparado para isso. Não havia plano B. Agora, não sabemos o que pode acontecer, mas está claro que as condições dadas às FARC para o acordo pesaram muito e a falta de mobilização do eleitorado colombiano também", disse à AFP, Jorge Cifuentes, engenheiro de 55 anos.
Agora, porém, o que reina é a incerteza absoluta. Com os resultados do referendo, a Colômbia volta a uma situação de impasse depois de, por breves dias, ter antecipado um ambiente de reconciliação nacional.
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