“Se hoje Portugal se distingue na Europa e no Mundo pelo seu grau de coesão nacional, muito o deve ao contributo liderante de Mário Soares. O sentimento de perda é assim acompanhado por um sentimento de gratidão eterna”, refere o voto de pesar lido pelo presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

O voto é proposto por Ferro Rodrigues e pela Mesa da Assembleia da República, constituída por deputados do PSD, PS, CDS-PP e BE, e foi lido em plenário na sessão de homenagem ao ex-chefe do Estado, que morreu sábado aos 92 anos.

Na abertura da sessão, e antes de ler o voto, Ferro Rodrigues salientou “os laços” que sempre o uniram ao histórico socialista e manifestou solidariedade para com a família.

O texto será votado no final da sessão evocativa, devendo recolher a unanimidade das bancadas parlamentares.

“Se a política era a vocação de Mário Soares, a liberdade era a sua causa”, sublinhou Ferro Rodrigues, frisando que o estadista “lutou até ao fim” num percurso em que, disse, “cometeu erros”.

“Cometeu erros, certamente, mas sempre entendeu a política democrática como uma atividade apaixonante, feita de vitórias mas também de derrotas, assente em escolhas claras e convicções fortes”, refere o voto de pesar.

O presidente do parlamento assinalou que “todos estiveram alguma vez ao lado dele e contra ele” e que, ao mesmo tempo, “todos lhes reconhecem a lealdade com os adversários e a tolerância com a diferença”.

“Mário Soares tinha a intuição dos grandes políticos e a visão dos grandes estadistas. Antecipava os grandes movimentos do seu tempo, e disso beneficiou o país, que assim melhor se posicionou perante os desafios da História”, assinalou.

Descrevendo o percurso político e os cargos ocupados por Soares antes e após o 25 de Abril de 1974, Ferro Rodrigues sublinhou que, na qualidade de deputado, “honrou o parlamentarismo e a atividade parlamentar” e que como primeiro-ministro “deixou as bases do Estado Social e a adesão à então Comunidade Económica Europeia”.

Enquanto secretário-geral do PS, Mário Soares “foi um dirigente influente da Internacional Socialista, o que viria a contribuir, de forma relevante, para o sucesso da democratização portuguesa e da integração europeia de Portugal”.

E mesmo enquanto secretário-geral do PS, “não hesitou em ficar quase só, para defender o seu pensamento sobre Portugal e sobre a democracia”, prosseguiu.

“A Assembleia da República assinala com tristeza o seu falecimento, transmitindo aos filhos, Isabel Soares e João Soares, Deputado à Assembleia da República, à sua família e a todo o Partido Socialista, o mais sentido pesar”, refere o voto.