Foram reveladas novas provas que esclarecem o que levou seis agentes da polícia de Vallejo a balear mortalmente Willie McCoy, rapper conhecido pelo nome artístico Willie Bo, dentro do seu carro, em frente a um restaurante Taco Bell.
O caso ocorreu a 9 de fevereiro, mas só agora é que as autoridades, cada vez mais pressionadas, revelaram publicamente as gravações captadas pelas câmaras corporais que cada um dos agentes carregava consigo no local.
Segundo a versão oficial da polícia, os agentes dirigiram-se ao local depois dum funcionário do Taco Bell ligar para o 911 (o número de emergência nos EUA), dizendo que estava um homem “caído” sobre o volante da sua viatura na zona de “drive through” do restaurante. A chamada terá sido feita às 22.30 de sábado, 9 de dezembro (6:30 de dia 10 em Lisboa).
Chegadas ao local, as autoridades ter-se-ão deparado com McCoy com uma pistola ao colo sem responder às suas solicitações, estando com as portas do carro trancadas. Ao pedirem reforços, os agentes descreveram que o homem mexeu-se “subitamente”, pelo que os agentes ter-lhe-ão pedido para “manter as mãos visíveis”, mas este terá “rapidamente mexido as suas mãos para pegar na arma”. Em resposta, os seis agentes dispararam durante quatro segundos, resultando em 25 ferimentos que causaram a morte no local.
Contudo, os vídeos - concentrados numa compilação publicada pela conta oficial da cidade - parecem apresentar alguns aspetos diferentes àqueles contados pelos agentes. Descreve o jornal The Guardian que nas imagens é visível que os agentes não tentaram acordar McCoy ou negociaram com ele depois de verificarem que este tinha uma arma ao colo. Ao invés, a reação dos agentes foi apontar as suas armas diretamente à sua cabeça quanto McCoy dormia.
Perante a falta de resposta do rapper, os polícias chegaram a considerar puxar McCoy para fora do carro, tendo, posteriormente, se apercebido que a arma do jovem não estava carregada e que teria, no máximo, uma bala na câmara, observando um dos agentes que "ele só tem um disparo" se tentasse alvejar algum dos agentes.
No entanto, as autoridades no local acabaram por decidir abrir fogo sobre McCoy se este reagisse, dizendo um dos polícias "se ele for para puxá-la, vocês sabem o que fazer". Momentos mais tarde, o jovem mexeu-se, coçando o ombro, o que levou todos os seis agentes a dispararem repetidamente sobre ele.
Na versão editada do vídeo, pode-se ver que foi incluída a legenda "mão tenta agarrar arma no colo" antes do momento dos disparos, mas as imagens encontram-se demasiado desfocadas para conseguir discernir se o movimento de McCoy foi com o intuito de agarrar na sua pistola.
Seguindo a sua descrição dos acontecimentos, o Departamento de Polícia de Vallejo tem defendido repetidamente a ação dos agentes, dizendo que estes apenas dispararam "por medo pela sua própria segurança". Esta visão tem sido contestada pela família de McCoy, que acusa os polícias de terem "executado" McCoy no sono e que o caso do jovem devia ter sido tratado como uma emergência médica, já que deveria estar a sofrer de fadiga.
Estima-se que os agentes tenham atingido McCoy com 25 disparos diferentes, na cara, garganta, peito, orelhas e braços. John Burris, advogado da família, mostrou imagens gráficas do corpo do jovem, descrevendo que os agentes "deixaram-no em pedaços".
Em declarações ao The Guardian, Marc McCoy disse-se aliviado por ter visto os vídeos, apesar de não acreditar que será feita justiça pois existem "milhares de vídeos no YouTube que mostram má conduta policial, desde espancamentos a mortes", sendo que, neste caso concreto, "a polícia de Vallejo viu o vídeo e não considerou que tenha acontecido alguma coisa errada ou que os agentes tenha cometido algum crime".
Os vídeos apenas foram revelados depois de vários pedidos, sendo que a polícia tentou repetidamente barrar o acesso dos mesmos à família e aos advogados permitindo apenas uma sessão privada a três familiares.
Marc disse que a família vai avançar com um processo de direitos civis contra os agentes - um deles com um outro processo em curso de brutalidade policial por ter disparado e morto um outro homem, desarmado - e contra o departamento de polícia da cidade.
Melissa Nold, outra advogada da família, considera que o vídeo deixam bem claro que a polícia não tentou lidar com a situação de forma segura e que "não houve tentativa de preservação de vida". Marc acrescenta que os agentes "nunca pareceram querer serem pacíficos ou a tentar suavizar a situação", apontando que, neste caso, a postura da polícia foi "se ele se mexer, matamo-lo".
David Harrison, primo de McCoy, disse, pela altura da ocorrência, que a morte do rapper tinha um propósito. “Estamos a ser visados.... A polícia está a levar uma campanha para executar jovens homens negros que preencham um certo perfil”, diz, lembrando que Willie preenchia os requisitos por representar “a música hip-hop”.
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