"Sinto-me orgulhoso por representar o meu país ao mais alto nível, apesar de não ter batido o meu recorde pessoal. Já vinha a sofrer quando faltavam três voltas e percebi que essa meta estava fora do meu alcance. Tinha as pernas pesadas e estava a custar-me bastante fazer a última volta, mas, quando reparei que ele precisava de ajuda, fiz o que qualquer um estaria disposto a fazer naquela posição", reconheceu à agência Lusa o atleta do Maia Atlético Clube, após a prova decorrida na sexta-feira no Estádio Internacional Khalifa, em Doha.
Braima Dabó e Jonathan Busby eram os únicos representantes dos respetivos países na 17.ª edição dos Mundiais, devido às quotas atribuídas pela Federação Internacional de Atletismo, e partiram sem expectativas de alcançar a final dos 5.000 metros, tendo descolado com naturalidade do pelotão.
A cerca de 250 metros do fim, o atleta natural de uma pequena ilha das Caraíbas denotou sinais de quebra física e dificuldades em manter-se de pé, ao ponto de o guineense ter recuado para amparar o adversário e carregá-lo até à meta, sacrificando a sua própria prova, numa lição de desportivismo reconhecida além fronteiras.
"Estivemos juntos no dia em que cheguei ao hotel, hoje cumprimentámo-nos na câmara de chamada e depois do tiro da partida nunca mais consegui falar com ele. Deu-me sempre algum avanço até àquele momento. Ele só fala inglês e eu só falo português, mas percebi na chegada que me tinha agradecido", contou.
Os dois atletas foram últimos, superando os 18 minutos, e o arubano até recebeu ordem de desqualificação, numa corrida ganha pelo etíope Selemon Barega (13.24,69 minutos), mas ambos acabaram ovacionados pelos adeptos presentes num recinto que ameniza a temperatura devido a um sistema de refrigeração.
Apesar do clima desértico ser inevitável para quem está hospedado em Doha, Braima Dabó, que aterrou no Qatar na terça-feira, admite que o forte calor e humidade podem ter "condicionado" o desempenho de Jonathan Busby, mesmo se a "temperatura no interior do estádio estava razoável".
"Quando cheguei aqui, saí do aeroporto para entrar no autocarro e apanhei um susto por causa da temperatura. Na Guiné-Bissau não chega a metade disto e os 35º celsius de lá não são comparáveis aos 30º daqui", estabeleceu.
Braima Suncar Dabó, de 26 anos, vive em Portugal desde 2011, ao abrigo de um projeto criado pela organização não governamental "Na Rota dos Povos", que apoia o desenvolvimento dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) fora dos grandes centros populacionais, em zonas carenciadas ao nível da educação e formação cultural.
"Agora vou voltar a Portugal para terminar a minha licenciatura em Gestão no Instituto Politécnico de Bragança e depois quero regressar ao meu país, que não visito há oito anos. Estou cá sem os meus familiares, mas as pessoas que me rodeiam dão carinho e conforto para poder sentir-me em casa", referiu.
Natural de Catió, capital da região de Tombali, Braima Dabó intensificou o gosto pelo atletismo em 2014 e desloca-se aos fins de semana à Maia para treinar sob orientação de José Regalo, que já foi um dos melhores corredores lusos de 5.000 metros, movido pelo "sonho" de "ter uma marca" que abra a porta dos Jogos Olímpicos.
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