Luiz Moura é espanhol. De Alicante. É vendedor ambulante. Apresenta-se em Macedo de Cavaleiros atrás de uma mesa branca com várias bicicletas expostas. São feitas à mão, corte e construção, utilizando, para tal, um material à base de alumínio e “plástico de esparguete”, explica.
É a primeira vez na Volta a Portugal em bicicleta. Entrou em Reguengos, repetindo agora a venda em terras de Trás-os-Montes e seguirá o percurso há muito desenhado pela organização da 79ª edição da prova.
Acompanhado do cunhado, Adolfo Gomes, 61 anos, viajam “num furgão”. Será essa a casa nos próximos dias, intervalada com hotéis “para descansar o corpo”, sublinha.
O palco privilegiado da sua arte será as “partidas”, local onde “vende-se mais”. Sustenta a afirmação com a propriedade da experiência de quem faz vida da venda de terra em terra.
Luiz Moura tentou o ciclismo, foi corredor, mas “não era bom”, recorda. Diz-se “encantado” com bicicletas e talvez por isso se explique a escolha de profissão.
Uma profissão que o “obriga” a acompanhar, de perto, as três grandes provas das duas rodas. Este ano, 2017, “completei o 25º Giro (Volta à Itália)”, conta, revelando ainda que participou na “28 Tour de France, nas etapas de montanha”, prova durante a qual fez, este ano, “três etapas”, embora sublinhe que só fez “oito completos” porque “é muito caro percorrê-lo na totalidade”. Com muitos quilómetros de estrada feitos depois de Portugal, prepara-se para cumprir a “28 Vuelta (Volta à Espanha), afirma.
Com 59 anos, à pergunta se consegue viver sendo vendedor ambulante responde taxativamente, sem hesitar ou queixumes: “Vende-se bem e dá para viver decentemente”. O custo de cada obra que lhe sai das mãos atinge os 4 euros, informa. “No Giro vendo entre mil a 3 mil em cada ano”, atira Luiz Moura, de 58 anos.
Atrás da Volta em duas rodas, de carro e comboio. Os dias de um ciclista de 71 anos
Rui Vasco tem 71 anos. Apresentou-se na meta, junto ao pódio, vestido a rigor com um equipamento de licra do Clube de Ciclismo de Tavira. Está com ar cansado e explica a razão. “Já subi duas vezes de Mondim (de Basto) até cá cima (Santuário de Nossa Senhora da Graça). Agora vou descer até à minha Renault 4 L (com 27 anos de “idade”) que está lá em baixo, em Mondim”.
Não está de passagem pela 4ª etapa. Aponta para o conta-quilómetros da bicicleta. “350 km reais”, atira e explica que anda atrás da Volta a Portugal.
“Fui de Lisboa a Vila Franca de Xira. Daí até Coimbra”, sempre em cima das duas rodas. Aí chegado, “tomei um banho no Mondego”, exemplifica, passando as mãos pelo abdómen e braços.
Na cidade o fado e do conhecimento apanhou o “comboio até Espinho”, uma paragem que serviu de trampolim para uma etapa de cariz pessoal até Santa Maria da Feira em cima do selim só para “assistir com a minha mulher à Festa dos Arcos, em Paços Brandão”, uma festa seguida de uma “ida a casa para dormir”, frisa.
Em casa, pegou na carrinha 4L e viajou até Mondim de Basto, palco do final da 4ª etapa. O resto já se sabe a história, subiu e desceu duas vezes na difícil subida em que pelotão da prova procura superar os limites.
Lá no alto da Nossa Senhora da Graça aproveita para desvendar que, de imediato, seguirá para Boticas e daí para Viana de Castelo, um traçado feito de “carro” para ver a caravana chegar, mas que aí chegado quer ir até Viseu “de bicicleta” para ver o fim da competição que celebra 90 anos, sorri seguindo caminho atrás da romaria de pessoas que vão descendo a estrada. Parou onde tinha o carro.
Com a “Cidade do Ciclismo” já desmontada às portas de Mondim de Basto, com a bicicleta “montada” no tejadilho da Renault 4 L, não se cansa de repetir. “Vou atrás deles com 71 anos...71 anos”, repete com sotaque tripeiro.
*Os jornalistas viajaram a convite da Rubis Gás
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