Esta eliminação (derrota por 3-2), pela expectativa gerada pelo bom desempenho em campo antes de o campeonato parar devido à quarentena e pela situação do adversário, que praticamente perdeu oito titulares durante o interregno, parece que doeu mais no coração do adepto. Era a melhor oportunidade, nos últimos anos, de tirar a equipa da cepa torta e satisfazer um adepto cansado de perder.

O São Paulo tinha feito bons jogos antes da pausa do campeonato, havia vencido a LDU, pela Libertadores, e o Santos, com autoridade. Daniel Alves estava em alta e a filosofia do treinador Fernando Diniz parecia finalmente pronta para dar frutos. Mas os três jogos que fez, após o retorno, foram muito dececionantes. Venceu apenas um, com as reservas, e classificou, com este resultado, o Corinthians para as finais do campeonato. Sofreu seis golos em casa e só não ouviu vaias porque não haviam adeptos nas bancadas.

É facto que as recentes gestões do São Paulo falharam muito no planeamento do futebol, demitiram treinadores em série, venderam jovens promissores e contrataram mal, falharam em criar um ambiente competitivo dentro do plantel e estiveram mal em diversos aspetos extra futebol. Mas para este último jogo, haviam feito a sua parte. Os ordenados estavam sob controlo, pela primeira vez em muito tempo, e o clube teve toda a estrutura para a preparação para este retorno. Não houve nenhuma perda no plantel, para além de Antony que já se sabia que sairia desde o começo do ano. Ou seja, as condições eram ideais para manter o desempenho pré-parada.

Só que, entretanto, o onze titular voltou com os mesmos vícios de um passado recente. Muita circulação de bola e pouco perigo criado, lentidão, e uma sensação de estar numa rotação inferior ao adversário. O São Paulo não transmitia fome de vencer e quando atacava ou lutava, não tinha repertório ofensivo para criar jogadas de perigo. E, para piorar, defensivamente, apresentava falhas graves. Nas duas derrotas, sofreu golos em praticamente todos os ataques que sofreu.

Agora, apesar de o contexto derrotista do clube ser culpa da direção, esta derrota tem que ser colocada, também, na conta do treinador Fernando Diniz. O São Paulo apresentou os mesmos defeitos de todos os seus trabalhos recentes. Por ser um jogo mais complexo, pode precisar de mais tempo para engrenar, mas é inaceitável perder da forma que perdeu para um clube remendado como estava o Mirassol.

A sua insistência no onze titular, claramente lento demais para executar as suas ideias de jogo, acontece por medo de tirar os líderes do plantel da equipa principal ou por não enxergar essa deficiência? O trio de ataque com Pablo, Pato e Vitor Bueno centraliza demais as jogadas e não chega à linha de fundo. Os laterais, principalmente Juanfran, tem dificuldade na ultrapassagem em velocidade e, por vezes, não tem com quem tabelar nos flancos do campo.

Durante o jogo, Diniz repetiu a estratégia de tirar um defesa central e colocar um jogador da frente, mas desta vez tirou a solidez defensiva e perdeu a arma de Reinaldo pelo lado esquerdo para um inoperante Everton. As suas reações após os golos adversários eram as de quem não sabia o que fazer.

Obviamente que é mais fácil jogar numa tática reativa, à espera do erro do adversário para contra-atacar, mas o São Paulo deixou a tarefa do Mirassol muito fácil. Não causava sustos ao atacar e dava muito espaço para o contra-ataque pelos flancos. Particularmente, desta vez, a derrota não se deve tanto a apatia dentro de campo, quanto à falta de flexibilidade e criatividade ofensiva para gerar perigo.

Diniz é elogiado pela forma como vê o jogo e tem, no São Paulo, o melhor material humano, ainda que com algumas limitações, para implementar o seu jogo ofensivo de posse de bola. No entanto, vai começar o Brasileirão em xeque e a precisar de mostrar que sabe fazer uma equipa de alto nível jogar como ele quer. Precisa de mostrar que sabe dar identidade à equipa e, com um bom desempenho, conseguir resultados. Precisa de provar que é um bom treinador. E esta pode ser a sua última chance.