“Catenaccio”. Uma rápida pesquisa e encontramos uma definição: é uma tática de futebol, conhecida mundialmente por ser defensiva e pelo seu pragmatismo. Por isso, muitos especialistas defendem que o catenaccio não é bem um sistema tático, mas sim uma estratégia de jogo ultradefensiva que se caracteriza pelo excessivo recuo dos defesas e, até mesmo, dos atacantes. Esta estratégia tem duas prerrogativas fundamentais: solidez defensiva e velocidade no contra-ataque. O modelo foi inventado em Itália e popularizado pelo Inter Milão de Hector Herrera.
No primeiro e único debate televisivo entre os candidatos a presidente do Sporting Clube de Portugal, Bruno Carvalho e Pedro Madeira Rodrigues jogaram em casa, em Alvalade, com transmissão na Sporting TV. Ambos jogaram à italiana. Defesa, ataque e contra-ataque. De parte a parte.
Ao longo de pouco mais de duas horas, num debate em que por acordo dos candidatos se estendeu para além do previamente combinado, falou-se essencialmente de futebol, muito do passado e muito pouco do futuro. A equipa de futebol dominou as atenções. Falou-se ainda de reestruturação financeira, do ecletismo e da militância.
Bruno Carvalho apresentou posse de estadista. Institucional. Jogou mais à defesa. Como se de um político se tratasse, mostrou a obra feita ao longo dos 4 anos de mandato. Comparou com o passado. “Dois títulos europeus em 4 anos”, disse, recordando os 22 ganhos em 110 anos de história do clube. “Uma taça e uma supertaça” que compara, recorrendo à média de títulos/ano, com o que se ganhou nos últimos 40. Falou de um pavilhão que outros falaram mas que ele edificou. Quer um clube eclético e com mais sócios. Mostrou papéis. Números. Gráficos. Apresentou contas e falou de vendas recorde. Mostrou saldo positivo no futebol. E disse que em equipa que ganha não se mexe.
Pedro Madeira Rodrigues - que na pré-época do debate poucos “resultados” tinha conseguido, entre um misto de 'perdido por um, perdido por mil' - depois de um início em que estudou o adversário, entrou em campo. Por volta do minuto 36. No preciso instante que o tema Jorge Jesus surgiu. Assumiu que terá um perfil de liderança diferente, atacou as contratações feitas, falou do regresso de dois campeões – Boloni e Delfim, e de uma modalidade, basquetebol. Atirou a um alvo principal: José Maria Ricciardi e a um alvo secundário, o empresário Costa Aguiar. E, porque nestas coisas de eleições temos de apresentar trunfos e vender sonhos, falou de investidores que virão com um vento suão, do médio Oriente, para arejar as contas leoninas.
Como bom jogo à italiana, houve jogadas para “provocar” o adversário. Madeira Rodrigues falou de fumo nos túneis, IRS, empresas falidas e voltas olímpicas, de diferenças de liderança e percurso profissional. Bruno de Carvalho, que só a espaços mostrou o seu lado de animal político de 2011 e 2013, atirou que Delfim dedicou-se à agricultura nos últimos 10 anos, falou do convite em cima da hora a Boloni, de crenças e falácias de Madeira Rodrigues e de um programa eleitoral que dava uma tese de mestrado, mas a que ele dava a classificação de fraquinho.
Madeira Rodrigues garantiu que, uma vez eleito, se em quatro anos não vencer o título de campeão no futebol sai pelo próprio pé. Bruno de Carvalho acena à estabilidade e pede mais quatro anos para sê-lo.
Ambos os candidatos pedem uma manifestação de militância e adesão eleitoral para o dia 4 de março, dia em que os 43 mil sócios decidem quem vão colocar na cadeira presidencial.
Fim de jogo. O árbitro, Pedro Miguel Mendonça, dá por encerrado o frente-a-frente. Bruno de Carvalho somou 65 minutos de posse de bola. Madeira Rodrigues, 63.
No final, na zona de entrevistas rápidas, o atual presidente saiu satisfeito “por não ter respondido a provocações” e triste, enquanto sportinguista, porque o clube “merecia outro tipo de campanha, com propostas e sem ataques pessoais e sem suspeições”.
Já Pedro Madeira Rodrigues que diz que saiu “reforçado”. Mostrou ter um “ar simpático”, mas reafirmou que é uma pessoa “acutilante, um leão”, que consegue ser “agressivo sem ser malcriado”. E adiou por mais uns dias aquele que pode ser último trunfo: o do treinador que será “anunciado entre 2ª ou 3ª feira”.
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